XXXIII DOMINGO DO TC – A (Mt 25,14-30)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Jesus usa uma imagem do mundo dos negócios e da economia para nos falar da chegada do Reino de Deus. Além do convite à vigilância e à expectativa a parábola convida à responsabilidade para com os bens que recebemos de Deus. Tal responsabilidade varia de acordo com o talento recebido para o serviço.
O patrão da parábola confia seus bens aos empregados para que estes os administrem da melhor forma possível e parte em viagem por muito tempo. A parábola destaca que há um longo tempo para que os empregados trabalhem, não podendo alegar depois que lhes faltou tempo para isso, nem falta de recursos, pois cada um recebeu os talentos na medida de sua capacidade.
Traduzindo a linguagem da parábola, o que seriam para nós esses talentos? São, evidentemente, nossos dons e capacidades naturais de inteligência, força, criatividade etc. Mas não é só isso. Jesus não fala da obrigação em devolver os dons naturais de cada um apenas, mas de fazer frutificar os dons espirituais, aqueles que recebemos no do Espírito Santo em nosso batismo.
Podemos ainda considerar que os talentos são os recursos espirituais que Jesus nos deixou para podermos crescer na vida divina: a Palavra de Deus e os Sacramentos. Recebendo esses talentos, esse “pouco” que já é “muito”, somos desde já introduzidos na alegria do Reino de Deus.
Voltando à parábola, percebemos que cada um dos empregados age de forma diferente em relação aos talentos recebidos. Os dois primeiros se esforçam para multiplicar os talentos e quando o patrão volta eles recebem dele a participação em sua alegria. Vejam que eles não recebem apenas uma recompensa pelo bom trabalho realizado, mas têm acesso à própria vida do patrão. Essa é a garantia que Jesus nos oferece: somos filhos de Deus e herdeiros de seu Reino.
O último empregado, ao contrário, não faz o seu talento multiplicar. O que está em questão não é a quantidade recebida ou devolvida, não é o lucro que interessa, mas o empenho de cada um. Este último enterra o talento como se fosse algo a ser escondido, algo sem vida. Faz isso acreditando estar dentro da justiça, mantendo-se em segurança. Ele não perde o que lhe foi confiado, mas também não faz frutificar, é estéril. Em lugar de dedicação e entusiasmo, encontramos nele apenas medo ou desprezo pelo patrão. No fundo, este empregado não quer sair de seu sossegado comodismo; é “mau e preguiçoso”, como o declara o patrão.
Com esta parábola devemos nos perguntar sobre o que temos feito com os talentos que recebemos? Não apenas os naturais, como nossa saúde, nossas capacidades intelectuais, nossos bens materiais, mas principalmente esses talentos espirituais: a Palavra de Deus e o Sacramentos. Qual dos servos nós somos: os que fazem os talentos multiplicar ou o servo que os enterra, sem muita preocupação, sem empenho, com preguiça?
O patrão nos entrega seus bens e sai em viagem, mas quando voltar ele nos pedirá contas da administração. E não é porque ele demora em chegar que não virá!
Nossa atitude deve ser de espera vigilante, de prudência e alegria, como o modelo da mulher forte da primeira leitura, um modelo de sabedoria para todos nós, homens e mulheres. Como vimos, o terceiro servo não é um modelo, tem medo do seu senhor, um medo que o cristão não pode ter, desde que se tornou filho de Deus no Batismo, como nos lembra São Paulo na carta aos Tessalonicenses. Paulo, porém, exorta: “não durmamos como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”.
Que ao recebermos o talento da Palavra e da Eucaristia o Senhor também nos conceda a disposição e o desejo de nos empenharmos para fazê-los frutificar em nossas vidas e ao nosso redor, para que o mundo seja transformado e o Reino de Deus aconteça em nosso meio.