Dom Agostinho, OSB

Caros irmãos,
a liturgia deste domingo nos convida a refle????r sobre a necessidade de estarmos preparados para o encontro com o
Senhor.
No Evangelho, Jesus nos afirma que o Reino dos céus é como dez jovens, as amigas da noiva, que estão aguardando a
chegada do noivo para que se inicie a festa das Bodas. Elas devem estar preparadas, estar precavidas, agirem com
prudência, porque não sabem em que momento ele chegará, e é preciso ter óleo suficiente para manter as candeias
acesas.
O Cristo Jesus prometeu aos seus discípulos que Ele voltará. E assim vivemos nossa vida cristã, aguardando o momento
em que O veremos face a face. Enquanto Ele não chega, precisamos perseverar na fé, manter o coração vigilante e
também estarmos empenhados na construção do Reino, a par????r dos valores do Evangelho, da escuta da Palavra de
Deus e na obediência à sua vontade.
Na Celebração Eucarís????ca, na “Oração do dia”, o sacerdote pedirá a Deus: “[…] afastai de nós todo obstáculo para que,
inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço”. Dessa forma, esta primeira oração de coleta da Missa já
desperta o nosso coração para a mensagem do Evangelho. É preciso servir a Deus na plena liberdade do amor, para
que quanto maior for a Sua demora, mais o nosso coração O deseje, e Ele nos encontre inteiramente engajados no Seu
serviço.
Mas o nosso encontro com Cristo Jesus pode se dar de um outro modo. Talvez o Senhor não retorne a nós, mas nós é
que ouviremos: “[…] Ide ao seu encontro”, ou seja, nós façamos a nossa páscoa. E como será então a volta do Senhor
para aqueles que já morreram? Essa é a questão que Paulo aborda na segunda leitura que ouvimos na Celebração
Eucarís????ca: todos nós, que cremos no Senhor Jesus, viveremos junto d’Ele, seja os que já par????ram ou aqueles que
ainda es????verem vivos por ocasião de sua vinda. Todos fomos resgatados pelo dom de Seu Amor, a Ele pertencemos…
com Ele viveremos.
Ora, a nossa vida cristã é cons????tuída de pequenos encontros diários, corriqueiros, comuns com o Senhor… na liturgia
que celebramos, na oração pessoal, em cada um de nossos irmãos, em nossas comunidades, nos dons que recebemos,
nas dificuldades que enfrentamos. E muitas vezes não O reconhecemos, não percebemos que é o Senhor que está
diante de nós. A sensação ou percepção mais comum é de que Ele não está conosco. Ou ainda que Ele está demorando
para manifestar sua vontade, ou para nos socorrer em nossas aflições, ou para curar e salvar alguém que tanto
amamos, ou simplesmente dar-nos um pequeno sinal de que Ele con????nua presente. Em tudo isso vamos caminhando
e procurando crescer na fé, na confiança em Seu amor e Sua misericórdia, nos colocamos diante d’Ele pedindo seu
perdão pelas vezes que nos sen????mos fracos. Mas Ele nos convida à perseverança … é preciso saber esperar… e não
deixar que a chama da fé, da esperança, do amor do Senhor por nós se ex????nga. Esses pequenos encontros no preparam
para o úl????mo, o grande, o defini????vo encontro com o Deus da Vida.
Santo Agos????nho dizia: “Se nossos corações, simbolizados pelas lâmpadas, carecem em seu interior do sen????do da
profunda misericórdia de Deus, andamos sempre escassos de azeite e esquecemos de levar o suficiente”. Portanto,
precisamos nos abrir à força do Espírito, e pedir que ele nos ensine e nos ajude a viver com serenidade, na certeza da
bondade de Deus para conosco, e sempre prontos a cul????vá-la na vida do nosso próximo, especialmente dos mais
frágeis.
Somos chamados, a par????r de nosso ba????smo, a vivermos no Espírito de Deus e abrir-nos à sua ação para que a sabedoria
de Deus guie con????nuamente os nossos passos, para que coloquemos em prá????ca Sua Palavra. Pois ela é dada com
generosidade a todos aqueles que a buscam. É desse tema que nos fala a primeira leitura. No entanto, hoje gostaria
de refle????r sobre esta perícope numa perspec????va cristólogica: Cristo, o “poder e sabedoria de Deus” (I Cor 1,24). Em
sua cruz resplandece a misericórdia do Deus Al????ssimo. Pois foi Ele que, assumindo nossa carne, se antecipou a nós e
nos revelou a face do Pai. E é Ele que, estando tão próximo de cada um de nós, diz: “Eis que estou à porta e bato: se
alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Apc 3,20). E se vivemos
despreocupados, em confiança e em paz, é porque ouvimos d’Ele: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o
peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas” (Mt 11,28-29). E para termos a certeza de que a
sabedoria de Deus, o Cristo Jesus, nos procura e vem ao nosso encontro, foi d’Ele que se disse: “Eu é que tenho
necessidade de ser ba????zado por ???? e tu vens a mim? (Mt 3,14). Assim, Jesus é a sabedoria encarnada do Pai, ao mesmo
tempo nosso paradigma e a raiz de nossa vida plena.
A par????r desses aspectos de nossa vida cristã que a Palavra de Deus nos traz, nós queremos con????nuar rezando ao longo
desta semana e deixar-nos iluminar por estas palavras do Senhor: “venha a nós o Vosso Reino”.

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