XXIX DOMINGO DO TC – C (Lc 18, 1-8)
D. Paulo DOMICIANO,OSB
Este início do capítulo 18 do Evangelho de S. Lucas, que acabamos de ouvir, vem logo em seguida à explicação sobre a chegada do Reino de Deus, suscitada pela pergunta dos fariseus sobre quando este chegaria. Jesus dirá que o importante não é saber “quando” chega o Reino de Deus, mas “como” deve ser a nossa atitude de espera.
Para continuar sua exortação Jesus conta esta parábola que ouvimos, mostrando que o tempo de expectativa pela vinda do Reino, que corresponde à vinda definitiva de Cristo, é o tempo da fé e da oração. Deste modo, podemos entender o sentido da pergunta deixada em suspenso ao final da parábola: “Quando o Filho do homem vier, encontrará fé sobre a terra?”
Fé e oração estão intimamente ligadas. Para orar é preciso crer e para crer é preciso orar. A oração perseverante é expressão e alimento da fé em Deus.
O objetivo da parábola é mostrar a necessidade da oração constante, insistente, sem nunca desistir. Somente assim a fé permanecerá firme até a chegada de Cristo. Na verdade, a pergunta de Jesus é um desafio: será que os seus discípulos terão coragem de perseverar na oração e manter acesa a chama da fé até o fim? Mas também é uma constatação: não é fácil permanecer perseverante na oração e por isso, talvez, poucos conservarão a fé até o fim.
É isso que a primeira leitura nos revela com a imagem de Moisés com os braços erguidos enquanto Josué batalha contra os inimigos. Permanecer na oração é difícil e por isso Moisés precisa da ajuda de Aarão e Ur até que a batalha termine. Isso nos mostra que precisamos da ajuda de nossos irmãos para rezar; precisamos do apoio da oração da Igreja, rezar juntos, celebrar juntos. Isso não quer dizer também que posso delegar aos outros a tarefa de rezar por mim, sem me comprometer com a oração. Na oração temos de nos apoiar mutuamente, para que a Igreja vença o duro combate de nosso tempo.
Mas o que devemos pedir na oração? A viúva pede justiça. Ela pede que seu direito seja defendido e protegido. Ela não pede que lhe seja dada alguma coisa que não lhe pertence, mas somente a sua medida, a parte que lhe cabe. Assim, poderíamos entender “justiça” como equidade, a justa medida das coisas. Assim, devemos pedir e esperar a justa medida das coisas, não de acordo com nossas medidas, mas de acordo com as medidas de Deus. Ele está sempre pronto a realizar a justiça em nossas vidas, mas precisamos sintonizar nosso pedido à sua vontade. Se muitas vezes parece que não somos ouvidos por Deus, isso pode ser um sinal de que meu desejo não está em sintonia com a sua vontade. Quando a minha vontade entra em sintonia com a vontade de Deus posso compreender melhor o plano de Deus em minha vida e então a justiça se faz.
“E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?” Se até mesmo nós, injustos como somos por causa de nosso modo limitado de perceber as coisas ou por causa da estreiteza de nosso egoísmo, somos capazes de realizar alguma justiça, quanto mais nosso Pai, que nos conhece e sabe de todas as nossas necessidades, nos fará justiça, defenderá nossa causa, nos concederá o que precisamos, no tempo certo, na medida certa, na forma certa.
São Paulo na carta a Timóteo o exorta a buscar na Palavra de Deus esta sintonia. Se não conhecemos a Palavra de Deus não podemos conhecer a vontade de Deus. É na lectio divina, orando com a Palavra de Deus, que aprendo a confrontar a minha vontade com a vontade de Deus. É na frequencia cotidiana das Sagradas Escrituras que somos introduzidos na gramática da linguagem de Deus, de seus pensamentos, de sua vontade. Não se aprende a “língua” de Deus senão através de sua Palavra.
Perseverando na oração, não só para pedir coisas, por mais urgentes e legítimas que sejam, mas para descobri a vontade de Deus em minha vida, começo a perceber que Deus me orienta, me educa, me ouve e faz justiça em minha vida. Não a minha justiça, não a minha medida, extremamente limitada e egoísta, como aquela do juiz da parábola, mas a justiça de Deus, que é larga, abrangente e que conduz à vida eterna.
Que nossa oração seja perseverante e saibamos pedir o que é necessário: seja feita a vossa vontade. Amém.