HOMILIA DO X DOMINGO DO TEMPO COMUM – B (Mc  3,20-35)

Dom Afonso VIEIRA, OSB

Irmãos e irmãs, a liturgia desse Domingo procura nos mostrar quem é Jesus, sua identidade e a comunhão que ele quer estabelecer com aqueles que estão dispostos a segui-lo. E Ele define-se pela sua relação de obediência a Deus Pai, e nos convida, a sendo parte de sua família, a aprender d’Ele a ter essa relação íntima com o Senhor.

A primeira leitura nos mostra o diálogo de Deus com as figuras poéticas do primeiro homem e da primeira mulher, depois da queda, para nos recordar o sentido da existência, deixando claro que todos nós somos chamados a não fazermos aliança com o mal, mas a estar atentos às tentações do Maligno. E nesse sentido, na segunda leitura, São Paulo mostra como as tribulações que ele sofre não diminuem o seu zelo missionário, caracterizado por uma grande confiança em Deus e na vida eterna. O não se deixar enganar pelas tentações abrem caminho para atitudes de esperança e de estar unido a Jesus na ressurreição, mesmo quando se encontra na tribulação terrena, então, no Evangelho, Jesus mostra que, na sua obra de libertação do poder do mal, não pode entrar em acordo com o demônio. Assim, Jesus, fazendo a vontade de Deus nos convida a formarmos uma comunidade centrada nele, o Cristo, e determinada a construir um mundo baseado no desejo de fazer a vontade de Deus.

Os escribas, cegos na sua oposição ao Senhor, espalham o boato de que Jesus tem poder sobre os demônios, porque está sujeito a Beelzebul, mas Jesus reage com palavras fortes, porque eles estão a caindo no grave pecado de negar e blasfemar sobre o Amor de Deus que está presente e atua em Jesus. Essa blasfémia, o pecado contra o Espírito Santo, é o único pecado imperdoável – como diz Jesus – porque parte de um fechamento do coração à misericórdia de Deus. O Senhor quer ensinar aos seus discípulos a importância da comunhão e a virtude de eles permanecerem unidos. Este episódio, do Evangelho, contém uma advertência que serve para todos nós, pois, pode acontecer que uma inveja da bondade e das boas obras de uma pessoa nos leve a acusá-la falsamente, e isso é um verdadeiro veneno mortal, pois maliciosamente se destrói a boa reputação de alguém. Quantas vezes, por exemplo, fazemos juízos desnecessários – e imprudentes -, sobre as intenções dos outros. Nós não conhecemos o interior do outro, mesmo pessoas muito próximas a nós, porque o interior do coração, quem conhece é Deus. Se, examinando a nossa consciência, identificamos que esta erva maligna está germinando dentro de nós, devemos confessá-la no sacramento da Penitência, antes que se desenvolva e produza os seus efeitos maléficos e incuráveis na nossa alma e na reputação do irmão. Esta atitude destrói as famílias, as amizades, as comunidades e até a sociedade, quebrando a unidade e a comunhão.

Devemos, pelo contrário, ter um grande amor pela unidade, na legítima diversidade que existe no povo de Deus. Mesmo que sejamos todos muito diferentes, mas o nosso amor deve ultrapassar a diversidade do agir e do pensar. Se estamos verdadeiramente caminhando para a santidade, nos esforçando no caminho que Deus traça para cada um de nós, devemos buscar a união. E, se virmos defeitos nos outros, a nossa atitude deve buscar a compreensão cheia de misericórdia, procurando ajudá-los a superar os desafios da vida. É preciso muita retidão e humildade, para evitar a posição daqueles que – como os que acusam o Senhor de estar possuído por um espírito impuro – interpretam mal o trabalho dos outros e recusam, por princípio, reconhecer a ação de Deus nas iniciativas das pessoas.

A mensagem, desse Evangelho de hoje, revela, portanto, a identidade de Jesus em dois níveis, por um lado, Jesus se define pela total ligação a Deus e à sua vontade, a ponto de considerar sua família quem estiver nessa mesma atitude; por outro lado, pela total separação e diferenciação do Demônio-Satanás. Estar com Deus é estar apartado daquilo que causa mal! E Jesus diz que sua missão é, (como é dito na parábola cf. v. 27), entrar na casa do “homem forte” que é o demônio, “amarrá-lo”, e impedi-lo de continuar a sua ação.

Quando o cristão se decide a seguir Jesus, isso implica necessariamente que renuncie ao mal e ao demônio. Assim é, de maneira que Jesus estabelece uma clara separação entre o seu serviço e o poder de Satanás, e por isso, desde o primeiro momento da vida cristã, nós somos chamados a renunciar a Satanás e a fazer a profissão de fé em Deus. No nosso cotidiano, isso implica que se tenha claro que algumas práticas como o horóscopo, previsão do futuro, alinhamento da vida através da numerologia, não são práticas próprias de um cristão, mas aprisionam, pois fazem com que se não viva sem se consultar essas coisas. Jesus vem nos libertar desse aprisionamento e é necessário deixar-se libertar. Na minha vida cristã não deve haver lugar para estas práticas. Nós somos chamados a formar uma comunidade, que está centrada na pessoa de Jesus e que tem como única missão fazer a vontade de Deus em todas as circunstâncias. É a isso que nos chama o Evangelho quando Jesus apresenta a sua verdadeira família, que é quem faz a vontade de Deus.

Peçamos ao Senhor a graça de não nos separarmos d’Ele e de seus ensinamentos para que um dia possamos viver com Ele n glória eterna. Amém!

Categories: Homilias