HOMILIA VII DOMINGO DO TC/ A (Mt 5, 38-48)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
“Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” (Mt 5,48)
Com esta frase final do Evangelho de hoje, Jesus conclui este bloco do Sermão da Montanha, que iniciamos no último domingo.
Este versículo final sintetiza a razão de todo o discurso de Jesus. Ele está nos propondo a “nova Lei”, pautada, como vimos, pelas Bem-aventuranças. E, através deste modo novo de viver e agir, sermos conduzidos a nos tornarmos “perfeitos como o Pai celeste é perfeito”.
Hoje, sobretudo, Jesus nos declara que a perfeição de Deus, que nos é proposta, consiste no amor; um amor incondicional, que sabe acolher maus e bons, justos e injustos. Um amor que é capaz de ser generoso ao extremo, de suportar até mesmos as injustiças, a violência, a exploração. Um amor que chaga ao extremo de amar até o inimigo e rezar por ele.
Mas isso tudo que ouvimos nos últimos domingos e, sobretudo, hoje, não nos parecer impossível ou inviável de ser vivido? Quando Jesus nos propõe: “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”, Ele não está nos desafiando para ver quem será o “herói” capaz de alcançar a linha de chegada primeiro. Muito menos ainda, não está impondo uma obrigação, um fardo insuportável sobre nossos ombros, pois Ele veio justamente para nos aliviar de nossos pesos (cf. Mt 11,28).
Mas então o que Jesus pretende com tudo isso que ouvimos?
O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, saiu bom, perfeito das mãos amorosas do Criador. O pecado nos roubou tudo isso e nos desviou dessa nossa belíssima vocação a sermos como o nosso Pai celeste. Ora, Deus é Amor, e portanto, o ser humano, no plano original, só pode ser Amor, só pode ser perfeito, pois foi criado à imagem e semelhança de Deus-Amor.
Jesus veio para nos devolver ao nosso caminho original. Ele nos coloca novamente no rumo certo e nos apresenta, com o Evangelho – “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” – o itinerário para voltarmos a ser inteiros, santos, bons e belos, à imagem e semelhança Dele mesmo.
O mais bonito é que Jesus não somente nos exorta a tomar o caminho de nosso verdadeiro destino: Ele nos capacita e nos impulsiona a progredir nessa aventura. Ele nos capacita com a força de seu Espírito Santo, que nos habita e faz de nós “santuários de Deus” como nos lembra S.Paulo na segunda leitura: “Acaso não sabeis que sois santuários de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3, 16)
Irmãos, o que Jesus nos declara hoje não é uma exigência de como devemos nos comportar, como devemos ser, mas é um anúncio – Boa Nova – a revelação do que realmente podemos ser: filhos do Pai celeste, capazes de amar como Ele ama. Capazes de amar até mesmo aqueles que nos ofendem, até os nossos inimigos.
Hoje percebo que todo o Sermão da Montanha pretende não somente nos propor novos valores ou um novo modo de vida. Percebo que Jesus nos mostra até onde vai o nosso potencial: sermos perfeitos como o Pai celeste é perfeito. Não se trata de uma “perfeição” moral… (Perfeição aqui tem sentido de “inteiro”, “íntegro”). Deus acredita tanto em nós que não espera nada menos que isso. Ele nos criou à sua imagem e semelhança, sabe que somos bons e capazes de ser cada vez melhores. Se Deus acredita em nós e aposta em nosso potencial, por que duvidamos?
Peçamos ao Espírito Santo a coragem, a ousadia de confiar no plano de Deus que Jesus nos anuncia no Evangelho. Assim, entraremos nesta dinâmica nova que faz de nós seres inteiros, pacificados, santos. Tomemos a consciência disso que somos: santuários santos de Deus (cf. 1Cor 3,17).
Que a Virgem Maria, tabernáculo santo de Deus, que confiou nas palavras do anjo Gabriel – “Cheia de graça” – e disse sim ao projeto de Deus em sua vida, interceda por nós e nos inspire a nos lançar neste caminho que leva À perfeição de Deus.