SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS (Mt 5, 1-12)
D. Paulo DOMICIANO,OSB
Para a Solenidade de “Todos os Santos” a liturgia nos propõe a proclamação e a meditação das “Bem-aventuranças”. Por mais que possa parecer, não se trata de um texto poético, nem de um texto moral ou legal, mas o que temos é uma “boa notícia”, um Evangelho, que coloca fé e felicidade em íntima relação. Mas de que se trata esta felicidade, esta “bem-aventurança”?
Todos nós vivemos em busca de felicidade, em busca de bem-estar, de alegria, de paz. Mas para alcançarmos este estado é preciso, antes de tudo, encontrar um significado na vida, uma direção, uma razão para viver. Somente aquele que descobre este sentido de vida, pela qual vale a pena “perder” a vida, conhece o que é a felicidade.
Jesus nos propõe o itinerário perfeito para alcançarmos a felicidade ou a bem-aventurança. A direção por Ele indicada aqui não é outra senão aquela que Ele mesmo seguiu, é o caminho que Ele percorreu em sua vida em seu Mistério Pascal.
Neste caminho das bem-aventuranças somos confrontados com diversas situações de nossa vida que, aparentemente, geram justamente o contrário da felicidade: pobreza, fome, perseguição… Mas isso nos revela algo profundamente libertador, ou seja, que a bem-aventurança não provém de condições externas ideais, do bem-estar, do prazer, do sucesso, das posses… Ao contrário, provém de uma atitude interior, de um comportamento assumido no coração diante da vida, que nos abre à comunhão com Deus, com o próximo e conosco mesmos.
Os Santos que hoje celebramos são estes nossos irmãos e irmãs que descobriram o caminho de liberdade interior. Descobriram que mesmo em situações difíceis e até mesmo trágicas podiam encontrar um lugar de esperança, um lugar de comunhão, de encontro. Eles descobriram que a pobreza de coração, a mansidão interior diante das adversidades, o desejo sincero de justiça, a misericórdia e a compaixão acima de qualquer sentimento de vingança, o suportar a incompreensão, que às vezes se traduz em perseguição e calúnia contra si, tudo isso pode ser uma oportunidade para descobrir a bem-aventurança, aqui, agora, na vida de cada dia, como antecipação daquela bem-aventurança eterna que veremos realizada no Reino dos Céus.
Sem dúvida assumir tal postura diante da vida não é algo simples, pois exige abrir mão das outras inúmeras promessas de felicidade que o mundo nos apresenta e que vão exatamente na direção oposta a tudo isso que Jesus nos propõe, mas que no final fracassam, gerando mais vazio e mais decepção ainda. O caminho para a bem-aventurança de Jesus é radical e exige de nós esta atitude de fé diante da vida. As bem-aventuranças colocam em relação a fé e a felicidade. Somente aquele que tem a coragem de acreditar na proposta de Jesus, como os Santos tiveram, pode viver a verdadeira felicidade. Acreditar que o caminho do Evangelho nos liberta da busca desenfreada por bem-estar e sucesso neste mundo nos capacita a perceber que a ação de Deus está a nosso favor, que Ele está conosco, mesmo quando tudo parece sem saída: aí está a alegria, aí está a bem-aventurança, pois Ele mesmo é nossa alegria. Descobrir esta presença amorosa em nossa vida nos possibilita a esperança, a força para continuar lutando com coragem, sem considerar a vida simplesmente como dor e luta, mas encontrando significado em cada situação, permitindo que a santidade divina desabroche em tudo o que nos rodeia.
Hoje celebramos a santidade de Deus na vida desta multidão que João viu no Apocalipse; eles são testemunha de que vale a pena aceitar o convite de Jesus para tomarmos o caminho das Bem-aventuranças, o caminho da santidade. Que esses nosso irmãos e irmãs, que contemplam a glória de Deus na eternidade, nos inspirem, intercedam por nós, nos ajudem a permitir também nós que a santidade de Deus que nos habita se manifeste e transforme nossa vida e o mundo que nos rodeia.