NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA (Jo 2, 1-11)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Na Tradição da Igreja a importância da devoção mariana não consiste tanto em rezar a Maria, mas rezar como Maria, viver como ela, imitar seu exemplo de mãe e discípula do Verbo feito carne em seu seio. Tanto é que os dogmas relativos à Maria estão inteiramente relacionados aos dogmas cristológicos; ela é chamada Mãe de Deus porque a Igreja professa a fé em Jesus Cristo como Deus e homem. Assim, sua vocação e dignidade só podem ser compreendidas em função da Encarnação do Verbo de Deus.

Desde o início a Tradição cristã viu em Maria um modelo para toda a Igreja. Ela é a imagem da Igreja-esposa, que se une de tal modo à vontade do Esposo que se torna um com ele. De fato, toda a liturgia de hoje nos remete ao tema das núpcias, como imagem da vocação da humanidade a se unir ao plano salvífico de Deus. Desde a antífona de entrada: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias”. A leitura do Livro de Ester: “Ester se revestiu de seus trajes reais e se apresentou na câmara interior do palácio”. O Salmo 44: “Em vestes vistosas ao rei se dirige”. E a leitura do Apocalipse: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas”. Mas é o Evangelho que nos introduz na cena de um casamento, em Caná da Galiléia.

Como a rainha Ester, que se apresentou diante do rei para suplicar por seu povo, para tentar converter a sua desgraça e condenação, temos Maria, que se apresenta diante de Jesus, também para lhe suplicar algo. Maria não tem poder para fazer nada por si mesma, ela sabe bem qual é o seu limite, mas como Ester, ela é movida por compaixão, pelo zelo feminino e materno, e recorre à sua única capacidade: a súplica por aqueles que precisam. Esta súplica confiante muda a situação, a falta de vinho; muda a carência em abundância, a tristeza em festa.

Como canta a liturgia, se por Eva veio a perdição ao mundo, por Maria nos veio a salvação. O “sim” de Maria, a aceitação da vontade de Deus em sua vida, que muda definitivamente o seu destino, muda radicalmente a situação da humanidade. O “sim” de Maria e toda a sua vida entregue aos desígnios de Deus em humilde obediência – “Fazei tudo o que ele vos disser” – convertem a desgraça e a condenação em Salvação. Como diz Santo Irineu: “E assim como Eva, desobedecendo, se tornou causa de morte para si mesma e para todo o gênero humano, assim também Maria […] se tornou, pela sua obediência, causa de salvação para si mesma e para todo o género humano”.

Categories: Homilias