HOMILIA NA SOLENIDADE DA MÃE DE DEUS
(Lc 2,16-21)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Neste primeiro dia do ano, celebramos a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, que encerra, ao mesmo tempo, a oitava do Natal.
Celebramos a Mãe de Deus, no entanto, é interessante observar que a leituras que acabamos de ouvir destacam mais a figura do “Filho” (2ª leitura e Evangelho) e do “nome do Senhor” (1ª leitura), do que a pessoa de Maria.
Esta atenção especial sobre o Filho não reduz, absolutamente, o papel e a importância da Mãe. Ao contrário, dá a ela todo o seu significado. Maria é totalmente Mãe porque esteve em total relação com seu Filho; por isso, honrando-a, o Filho é mais glorificado.
Quando chamamos Maria de Mãe de Deus – Theotokós – estamos reconhecendo a sua missão na história da salvação. Como ouvimos na carta de São Paulo aos Gálatas, “quanto chegou a plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4). Deus se fez homem no seio de uma mulher, sem deixar de ser Deus, e por isso esta mulher, por sua vez, se tornou Mãe de Deus. Toda a dignidade de Maria consiste no fato de ser a Mãe de Deus.
O Filho se despojou da condição divina, assumiu a condição humana, como canta o hino da carta aos Filipenses (Fl 2, 6-11), para que nós pudéssemos despojar nossa condição de pecadores e assumir a condição de filhos de Deus. “E porque sois filhos – como nos diz ainda São Paulo hoje – Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá — ó Pai!” (Gl 4, 6).
Essa obra grandiosa é realizada em nós pelo Espírito Santo, que foi derramado em nossos corações. O mesmo Espírito que foi derramado sobre a Virgem Maria e fez dela a Mãe de Deus.
Mas para que esta obra de renovação tenha eficácia em nossas vidas é preciso que, como Maria, nós digamos também: “faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Para tornar-se Mãe de Deus, Maria teve de dizer “sim” a esta Palavra de vida; para nos tornarmos filhos de Deus, pelo Espírito, nós também temos que dizer nosso “sim”.
É preciso guardar esta Palavra no coração, meditá-la, permitir que ela se enraíze, se encarne em nós também. “Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”, nos diz o Evangelho. Meus irmãos, é esta mesma atitude que nós somos convidados a ter hoje diante da Palavra pronunciada sobre nós nesta liturgia e a cada dia de nosso ano, através da lectio divina.
Neste primeiro dia do ano civil, a liturgia nos coloca sob a Palavra de bênção e de salvação de nosso Deus, sob o olhar amoroso de nosso Pai, como ouvimos na primeira leitura. Do mesmo modo, celebrando Maria, a Mãe de Deus, somos colocados sob o seu olhar materno daquela que soube acolher a Palavra em seu coração, em sua vida, em seu ventre e que nos garante a sua proteção e assistência durante este ano que começa.
Assim como Maria apresenta o Menino Deus aos pastores e também aos reis vindos de longe, ela o apresenta a nós hoje, como um sinal, como o caminho para um Ano, verdadeiramente, Novo, e mais do que isso: para uma vida nova. Cristo é o Verbo de Deus feito carne; Maria o dá a nós. Ele é o Príncipe da Paz e Maria o oferece a nós e ao mundo como um dom, o dom da Paz. Que nós saibamos acolher tão grande dom com gratidão e empenho para esta Palavra se encarne em nós e para fazer crescer em nosso meio este dom da Paz, permitindo que ele frutifique em nós e entre nós. Assim seja.