Santíssima Trindade – Mt 28, 16-20

Dom Afonso VIEIRA, OSB
Irmãos e irmãs, hoje, celebrando a Festa da Santíssima Trindade na condição de “povo reunido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, somos convidados a tomar consciência e experimentar o imenso amor de Deus, que a Igreja celebra de modo solene, no mistério da Santíssima Trindade. Deus Uno e Trino.
Como os nossos irmãos Hebreus e Muçulmanos, nós proclamamos que o nosso Deus é o único e acreditamos num único Deus. Porém, nós cristãos sabemos que este Deus único não é um ser solitário, mas um Deus comunitário; Família divina; comunidade de vida e de amor, que convida cada ser humano a fazer parte deste amor que transborda. Cada vez que realizamos a Eucaristia que é a celebração do amor do Pai, na entrega do Filho, pela força do Espírito Santo… evocamos este mistério de amor quando já no início da celebração fazemos o sinal da cruz dizendo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo… e professamos este mistério quando no credo afirmamos ‘Creio em Deus Pai, criador do céu e da terra; Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor; creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida…’ no desejo de prolongar e completar a nossa “descoberta” de Deus, a fim de que a nossa vida seja um sinal do amor de Deus para os nossos irmãos.
Falar da Santíssima Trindade não é falar de uma espécie de fórmula de Deus, impossível de decifrar… ou uma fórmula matemática, de resolução de um enigma teológico de Deus, em que permanecem Um só, em três pessoas diferentes. A crença na Trindade nos mostra que Deus não é uma definição, mas é vida, caminho, experiência… É comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existindo e subsistindo eternamente na doação recíproca e voluntária, em comunhão. Deus não se explica, se ama, se reza, se experimenta e se vive … sabendo que Ele é nosso amparo e protetor… que nós somos filhos no Filho… e que, pelo Espírito Santo, somos participantes da sua vida…
O Senhor é Deus… e não há outro. Assim começa a Liturgia da Palavra, desse Domingo, com o convite de Moisés ao povo a comtemplar a sua história e nela descobrir a presença atuante de Deus que ama e salva o seu Povo.
No Livro do Deuteronômio, Deus deixa a sua marca, a sua impressão digital, em toda a obra da criação e na História da Salvação, pois Ele elegeu e formou para si um povo, uma nação, e, em todo o mundo, ninguém jamais ouviu dizer que um deus tenha agido com tanto poder para libertar o seu povo como fez o Deus de Israel. Ele é um Deus que sai ao encontro, fala ao coração e realiza gestos e prodígios para conduzir esse povo ao encontro da vida. O Senhor é um Deus que acompanha de perto os acontecimentos da vida do seu povo, se interessando pelos seus problemas e, de várias formas, faz ouvir a sua voz indicando caminhos de liberdade… A descoberta deste Deus Todo poderoso traz consequências concretas para o povo de Israel e também para nós povo da Nova e Eterna Aliança. Em primeiro lugar, humildemente, devemos reconhecer que só o Senhor é Deus… e não há outro e renunciar a tantos ídolos que nos seduzem e nos querem vender propostas de uma felicidade enganadora. Em segundo lugar, sabendo que d’Ele e só d’Ele brotam a vida, a salvação, a liberdade, devemos cumprir as suas Leis e Mandamentos, que são caminho seguro de felicidade.
Viver no Espírito como diz S. Paulo, na 2ª leitura, é deixar-se guiar, para que viva como filho de Deus. O batismo faz com que não sejamos apenas simples criaturas ou escravos que servem um patrão na esperança de termos um prémio ou no temor de termos um castigo. O batismo nos torna filhos queridos e amados por um amor infinito; filhos que receberam d’Ele, pelo Espírito Santo, a sua vida e isso nos leva a dizer Abá Pai. E assim, sabendo, por experiência, que Deus é Salvador, que Deus perdoa, que é rico de misericórdia, que é tão próximo que nos dá o seu Filho como alimento, então o nosso rosto transborda de alegria, que é trazida pela fé. Alegria de se sentir amado por Deus… E unidos a esse Deus grandioso e Todo-Poderoso, a nossa vida torna-se missão: Ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei! (Evangelho)… Sabendo também, que o Senhor está conosco até ao fim dos tempos, que o seu Espírito vem ao nosso espírito e nos consola, levando-nos ao íntimo da ternura de Deus, então somos desafiados ainda, em Igreja, em família e em sociedade a viver a caridade e em caridade, pois como disse Santo Agostinho: “Se vês a caridade, vês a Trindade” (Santo Agostinho, De Trinitate, VIII, 8, 12).
Como discípulos temos a missão de ir ao encontro dos irmãos para os introduzir na família de Deus; devendo levar o Amor de Deus a todas as criaturas… Pois só entende a Trindade e mostra o Seu verdadeiro rosto, quem oferece amizade, quem constrói humanidade, quem cultiva o perdão, quem promove solidariedade, quem não vive para si mesmo, mas se gasta pelos outros, e é capaz de dar vida e dar a própria vida pelo irmão.
O Novo Testamento baseia a universalidade da missão na relação especial que Jesus ressuscitado mantém com cada homem sendo que a obediência ao Evangelho, na observância dos mandamentos de Jesus, aderindo, pelo batismo à vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo, no desapego da vida incrédula, implorando e acolhendo a remissão dos pecados, nos dá a esperança que nos sustenta nas provações e dificuldades, assim, não desanimemos, recordando as palavras que Jesus dirigiu aos discípulos antes de subir ao Céu: “Estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (v. 20).
Irmãos e irmãs, sejamos cristãos missionários, com a nossa vida e solidários, levando Cristo aos outros, para que eles possam, conosco, exultar de alegria no Senhor. Testemunhemos o amor de Deus que nos impele a ser mais humanos e irmãos uns dos outros. Amém

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