Homilia do V Domingo da Páscoa (Jo 15,1-8)
D. Agostinho B. FAGUNDES, OSB
Caros irmãos e irmãs,
a liturgia deste 5º Domingo da Páscoa nos convida ao amadurecimento da fé, a estreitarmos nossos laços
com Cristo Jesus, e vivemos na certeza de que Ele está sempre presente a nós, especialmente na liturgia,
acolhendo nossa oração.
Na perícope evangélica de hoje, o Cristo Senhor afirma que Ele é a videira verdadeira. Como sabemos,
em todo o Antigo Testamento o povo de Israel é a “vinha” plantada pelo próprio Deus. Mas Jesus agora quer afirmar que com Ele estamos num novo tempo, e que aquele que quer fazer parte do povo de Deus deve se ligar a Ele como os ramos de uma videira estão ligados ao tronco principal. Deus mesmo zela e cuida de sua vinha, da qual somos parte, e espera que possamos crescer em expansão e em profundidade. Que vivamos a mensagem evangélica, que a testemunhemos, que vivamos no serviço aos nossos irmãos, e também que cresçamos interiormente, que aprofundemos nossa relação com Seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.
Convém estar conscientes de que aderir à pessoa e à mensagem de Jesus é abraçar um caminho de
purificação, pois o próprio Senhor vem nos ajudar a, num processo de contínuo desenvolvimento, irmos nos afastando do mal, do egoísmo, do orgulho, dos encarceramentos em nós mesmos para que possamos servir a Ele e aos nossos irmãos na liberdade do amor. O mais importante é permanecermos em Jesus, por meio da escuta de Sua Palavra, seja ela de forma pessoal – por meio de nossa vida de oração, de comunhão com Deus – ou de forma comunitária – na liturgia, especialmente a dominical. E essa adesão à Palavra de Deus tende a refletir e permear todas as nossas atitudes e escolhas do nosso dia a dia. Também permanecemos n’Ele e Ele em nós na medida em que participamos do banquete eucarístico, quando o recebemos sacramentalmente, fazendo nosso coração arder de gratidão e de desejo de estarmos sempre mais unidos a Ele, a vide do Pai.
Ora, nós, que somos seus ramos, recebemos da Sua própria seiva, que é o Espírito de Deus. O Espírito
Santo, habitando no mais profundo de nós mesmos, nos conduz ao amor a Jesus e aos irmãos, e realiza a obra do Pai em nossos corações, transformando-os e abrindo-os para que possamos semear o Reino de Deus.
Quantas vezes em nosso caminho de fé nos cansamos e nos esgotamos porque ainda não nos deixamos
transformar plenamente pela Palavra de Deus? Porque ainda não estamos convencidos de que “sem Ele nada podemos fazer”. Porque queremos ser protagonistas em nossas vidas e nas vidas de nossas comunidades. E assim, muitas vezes acabamos causando atropelos e nos precipitando em diversas decisões porque não damos espaço ao Senhor. Queremos viver nossa vida cristã como se Deus fosse apenas um complemento, como se o Cristo fosse apenas um acréscimo, ou alguém com quem nos relacionamos nos momentos de dificuldade.
Meus irmãos, Deus é a fonte mesma da Vida. Tudo podemos n’Ele; muito pouco sem Ele. O discípulo de Cristo Jesus é aquele que se sabe fraco, insuficiente, muitas vezes inapto e ineficaz, mas ainda assim persevera e quer seguir o Mestre e imitá-lO, mesmo em meio às dificuldades e limitações. É aquele que sabe que todas as coisas boas têm sua fonte no coração de Deus.
Nos voltemos agora para a primeira leitura da liturgia. Ali vemos a figura de Barnabé, que tem a coragem
de introduzir Saulo na comunidade cristã de Jerusalém. Enquanto os cristãos ainda olhavam para Saulo com grande desconfiança, Barnabé verdadeiramente se faz seu irmão de fé, pois testemunha que o antigo perseguidor assumiu um caminho de conversão ao Cristo Jesus. Barnabé é instrumento de Deus para auxiliar Saulo a permanecer na videira. Não basta crer em Jesus, é preciso viver a fé junto aos irmãos, pois foi o próprio Senhor quem nos ensinou a viver assim, ao escolhe para si seus apóstolos. E esses irmãos são fundamentais em nossa vida, pois nos sustentam, intercedem por nós, nos orientam, já tinham uma vida de fé antes de nós aderirmos ao Senhor, e tal como nessa perícope de Atos dos Apóstolos, são aqueles que nos ajudam a escapar de tantas situações de morte que enfrentamos.
“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”