IV DOMINGO DA PÁSCOA – C (Jo 10, 11-18)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Neste IV Domingo da Páscoa a figura que se destaca para nós na Liturgia é a do Bom Pastor; uma das imagens mais emblemáticas do cristianismo primitivo para se referir a Jesus Cristo.
Cristo, o Bom Pastor, não exitou em dar a própria vida na cruz para nos salvar, como verdadeiro pastor que expõe sua vida diante das ameaças da morte para salvar o seu rebanho – “Eu dou minha vida pelas ovelhas”. Ele entregou voluntariamente sua vida e o Pai a restituiu, ressuscitando-o da morte, abrindo, assim, para nós, o caminho das pastagens eternas. “É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente”.
Na primeira leitura São Pedro, constituído pastor por Cristo, assim como todos os outros apóstolos, cuida do rebanho que o Senhor lhe confiou, curando um enfermo na porta do Templo. Ele precisa se justificar diante das autoridades, que não compreendem o dom da gratuidade de Deus manifestada diante deles. E assim, através dos séculos, tantos outros pastores de Cristo tiveram de enfrentar a incompreensão, a perseguição e até mesmo a morte, seguindo o exemplo do Bom Pastor, Jesus Cristo.
O “Evangelho do Bom Pastor” comporta um duplo ensinamento, que é, ao mesmo tempo, um duplo apelo: nos anuncia que somos as ovelhas do rebanho de Cristo, mas também nos convida a nos tornarmos como o próprio pastor.
O exemplo de Pedro nos faz perceber que o que sustenta a esperança e a perseverança do pastor que age em nome de Cristo é saber-se, antes de tudo, amado por Ele. Sua capacidade de ser pastor consiste antes de tudo, em reconhecer-se antes como uma ovelha do rebanho. Uma ovelha amada, procurada, amparada e curada pelo Bom Pastor. Caso contrário, o pastor de Cristo pode cair na pretensão de querer ele mesmo dar sustento às ovelhas que lhe foram confiadas, apoiado em suas próprias forças. Por isso Pedro não hesita em declarar: “Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré […] que este homem está curado, diante de vós”.
Se isso vale para os pastores de Cristo, sucessores dos apóstolos, não é diferente para cada um de nós também. Reconhecendo-nos como ovelhas de Cristo, somos chamados a nos deixar transformar em pastores de Cristo. Todos nós, cada um a seu modo, em sua vocação específica, em sua profissão, é chamado a ser pastor, é chamado a cuidar e dar a vida por aqueles que nos são confiados, sobretudo os mais frágeis. Como pais de família, na própria relação entre esposos, no cuidado dos pais idosos, mas também como médicos, professores, advogados, enfim, em qualquer posição que estejamos, somos chamados a cuidar, a ser pastor para aquele mais próximo.
São João nos declara na segunda leitura: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos!” Ou seja, somos filhos de Deus, somos as ovelhas de Cristo, mas para o Pai isso ainda não é suficiente. Em seu projeto de amor, Ele quer que nós sejamos imagem do seu Filho primogênito, Jesus Cristo. Por isso S. João continua: “Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”.
Mas como podemos atingir esse ideal? Reconhecer-se como uma ovelha do rebanho de Cristo e viver como tal já parece algo tão além de nossas forças… como é possível ser como o próprio Cristo-Bom Pastor?
De fato isso supera nossas forças humanas. Mas aqui não estamos falando de forças humanas, de boa disposição para mudar ou crescer. Estamos falando de graça, de gratuidade de Deus. De nossa parte, como a ovelha, nos abrimos e nos deixamos conduzir pela voz do Pastor: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27), declarará o Senhor na conclusão deste discurso.
Reconhecemos nossa fragilidade em seguir o pastor, em desejar ser como ele, em nos dedicarmos ao cuidado de nossos irmãos, dando a vida por eles, em conhecer o Pai e nos deixando amar por Ele. Por isso nós pedimos na oração de entrada de hoje: “conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que a fragilidade do rebanho chegue onde a precedeu a fortaleza do pastor, Jesus Cristo”. Pedimos ao Pai para que nos conduza à comunhão com Ele para que, apesar de nossa fraqueza, nós possamos atingir a fortaleza do Pastor, para que se manifeste, como disse S. João, aquilo que somos destinados a ser: imagem do Filho!
Peçamos com o coração sincero isso que a liturgia coloca em nossos lábios: que sejamos ovelhas dóceis à voz de nosso pastor, que se deixam conduzir e alimentar pelo alimento que dá a vida – sua Palavra, seu Corpo e seu Sangue – para que possamos crescer, nos tornando adultos na fé, como verdadeiros filhos de Deus, firmes na esperança e autênticos na caridade, assumindo, assim, a fortaleza do Bom Pastor em nossa vida.
Hoje a Igreja nos convida a orarmos pelas vocações. Precisamos pedir ao Bom Pastor bons pastores para nossa Igreja, bispos, sacerdotes e diáconos segundo o seu coração. Peçamos também pelas vocações à vida consagrada e à vida monástica. Peçamos ainda pelas demais vocações cristãs, pela vocação matrimonial, para que nossos jovens descubram a beleza de viver para servir e amar.