HOMILIA DO PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

ANO B (Mc 13,33-37)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

O primeiro Domingo do Advento inaugura o novo Ano Litúrgico, onde, domingo após domingo, celebraremos o mistério do Cristo morto e ressuscitado, que se manifesta em cada evento da vida de Jesus, desde seu nascimento até a sua vinda gloriosa no fim dos tempos. O Ano Litúrgico nos faz caminhar não em círculos, mas em espiral, permitindo que aprofundemos a cada ano a nossa vivência do Mistério de Cristo em nossa vida e não simplesmente repetindo as celebrações. 

Mas o que é o Advento, o que é esta chegada (Adventus)? O prefácio da missa de hoje, que rezaremos logo a seguir, nos anuncia o sentido deste tempo litúrgico em que somos introduzidos hoje: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez (…) Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez”. O Cristo já veio uma primeira vez, tomando a condição humana, e Ele virá de novo, no fim dos tempos. Esta vinda e esta espera, portanto, constituem as duas dimensões do mistério da chegada de Cristo em nossa história celebrado no Advento.  Ele veio e Ele virá! Fazemos memória de sua primeira vinda e anunciamos a sua vinda gloriosa.

Mas entre essas duas vindas de Cristo, o que fazemos? O prefácio ainda nos diz: “Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”.

O tempo presente, este “hoje” evocado pelo prefácio, é vivido em dependência com a vinda do Senhor Ressuscitado, na expectativa de encontrá-lo e de entrar plenamente na comunhão com Deus, vigilantes na fé.

Esta espera se articula com uma terceira vinda do Senhor, que o nosso prefácio de hoje não exprime explicitamente, justamente porque nós a celebramos neste momento, na liturgia. Pois, quando nos reunimos para celebrar o mistério de Cristo, Ele se faz presente no meio de nós, nos sacramentos, no pão e no vinho consagrados, na Palavra de Deus proclamada, na assembleia reunida, que é o Corpo de Cristo. Mas Ele chega ainda em nosso hoje através de cada pessoa que se aproxima de nós, sobretudo os mais necessitados. Um outro prefácio de Advento (prefácio I A) nos fala desta vinda do Cristo quando canta: “Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé”.

Assim, temos  “três vindas” do Senhor: Ele veio, Ele virá e Ele vem hoje. E para cada uma dessas chegadas, para cada um desses adventos do Senhor em nossa vida, precisamos estar preparados, vigilantes e à espera, como nos exorta o Evangelho de hoje.

Mas será que nós cremos realmente que Ele chega em nosso cotidiano? Cremos realmente que Ele está aqui, vivo em nossa assembleia? Cremos realmente na força de sua presença quando ouvimos a Palavra sendo proclamada? Mais ainda, vemos a imagem de Cristo em nosso próximo? Pois como ouvimos no último domingo, Ele mesmo declara: tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui estrangeiro e me acolhestes, doente e me visitastes… “Em verdade vos digo que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40).

O Evangelho nos exorta a vivermos a espera pela vinda do Senhor e a vivermos a sua chegada em nosso cotidiano estando acordados, vigilantes, “porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer”. Assim, todo a nossa vida deve estar permeada por esta atitude de vigilância, que não significa tensão, ansiedade ou medo, mas esperança. Sim, sem dúvida o tempo do Advento é um tempo de esperança. Uma palavra que em nossos dias, nas mídias, pode soar como ingenuidade, mas para o cristão a esperança é a atitude mais profética em meio ao caos, pois sabemos sobre quem depositamos a nossa confiança e por isso podemos ter esperança.

O tempo do Advento é este momento de graça em que somos convidados a recomeçar, com nova esperança, com novo ardor, o nosso caminho com o Senhor, em busca de seu Reino. Cheio de confiança, o profeta Isaías, na primeira leitura, invoca Deus dizendo: “ Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos”. Deus vem até nós em Jesus Cristo, seu Filho, para trabalhar nosso coração, como o oleiro trabalha e modela o barro para fazer surgir uma obra de arte. Ele trabalha esse barro com esperança, porque enxerga o que somos capazes de nos tornar e porque nos ama.

A liturgia das próximas semanas nos ajudará a viver mais profundamente esta dinâmica de abertura e acolhimento do Dom da chegada de Cristo no Natal, mas também em cada situação de nosso cotidiano para que possamos estar preparados a acolhê-lo em sua vinda gloriosa.  Deixemos que o Espírito Santo trabalhe em nosso coração, como o fez no coração de Maria, para que de fato o Senhor encontre espaço para nascer em nós, nos fazendo renascer em sua graça.

Maria, doce Virgem do silêncio, rogai por nós.

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