Homilia de Pentecostes (Jo 20,19-23)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
A Igreja prolonga por sete semanas, inspirada na tradição judaica, a festa da Páscoa. Os cinquenta dias transcorridos entre a Páscoa e o Pentecostes são dias do Espírito. Pentecostes significou, desde cedo, um período de cinquenta dias e não uma festa particular dedicada ao Espírito Santo. O Espírito Santo, dom do Cristo Ressuscitado, é o dom pascal por excelência e a plenitude da Páscoa.
A Festa das sete semanas celebrava a entrega da Torá a Moisés no monte Sinai. A Lei que selava a Aliança entre Deus e seu povo. Mas, a plenitude desta Aliança, que consiste na união entre Deus e o homem, só se realiza com a encarnação do Filho de Deus e sua oferta ao Pai por nós. De sua Páscoa brota o dom do Espírito, derramado em Pentecostes, que inscreve, não em tábuas de pedra, mas no coração de cada um, a nova Lei, a Lei do Espírito, como profetiza Ezequiel (cf. Ez 36, 26-27).
Visto que o Espírito Santo é o dom por excelência do Ressuscitado, que brota de sua Páscoa, compreendemos porque no Evangelho de João o evangelista coloca o evento de Pentecostes no mesmo dia Páscoa. Para João, o domingo da Páscoa é o dia da nova criação, quando Jesus se coloca no meio dos apóstolos e sopra sobre ele dizendo: “Recebei o Espírito Santo”.
Deste modo, retornamos ao mistério da Páscoa, pois a descida do Espírito sobre nós é inseparável da morte e ressurreição do Senhor. É exatamente nesta efusão do Espírito Santo que está o sentido e fim de toda a missão que o Filho recebeu do Pai.
Podemos dizer que em Jesus havia uma verdadeira ânsia para nos dar o Espírito Santo, a fim de que todos fossem atraídos a Ele, formando um único corpo com Ele, conformando a nossa vontade à sua e à do Pai. Por isso Ele promete: “o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26).
Porém, diante desta urgência, que dominava toda a missão e o desejo de Jesus, temos que reconhecer a nossa pouca disposição em pedir o Espírito Santo. Esta semana o Papa Francisco publicou uma pequena mensagem em sua conta do Twitter, que dizia: “Pedimos tantas coisas ao Senhor, mas muitas vezes esquecemo-nos de Lhe pedir o que é mais importante e que Ele nos deseja dar: o Espírito Santo, a força para amar. Com efeito, sem amor, o que é que havemos de oferecer ao mundo?” (03/06/22). O próprio Jesus nos adverte: “Até agora nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16,24). De fato, não há nada mais urgente a ser pedido do que o Espirito Santo, que nos ensina todas a coisas, que faz de nós um só corpo com Cristo e nos faz entrar em sintonia com o coração de Deus, fazendo-nos entrar, consequentemente, nesta alegria plena que nos promete Jesus.
De fato, como é possível viver nossa relação com Jesus sem desejar ardentemente estar com Ele, sem ser um membro de seu corpo? Este é o nosso pecado mais real: queremos ser seus discípulos, mas separados dele, porque nos falta esta paixão, este desejo profundo de sermos uma só carne, um só corpo com Ele e com todos os outros membros do seu corpo, nossos irmãos e irmãs.
Não tenhamos medo de pedir o Espírito Santo e nos abrir à sua ação em nós: Ele renova todas as coisas! Que possamos permitir que Ele renove nossa mente, nosso coração, nosso agir, nosso falar e, deste modo, seremos as testemunhas de Jesus ressuscitado, podendo anunciar juntamente com os apóstolos: “Vimos o Senhor”.
Que a Virgem Maria, a Mãe do Cenáculo, interceda por nós, para que sejamos abertos, dóceis e disponíveis ao Espírito como ela foi; com ela e com os apóstolos peçamos, sem temos: Vinde Espírito Santo!