Homilia para o 5º Domingo do Tempo Comum,
proferida a 9 de fevereiro de 2020
por Dom Martinho do Carmo OSB

Is 58,7-10; Sl 111; 1Cor 2,1-5; Mt 5,13-16

Caros irmãos e irmãs

NA vida, o que mais precisamos, além do indispensável alimento cotidiano, é de uma boa palavra, uma dessas palavras que são ditas no momento certo e que iluminam a vida. Uma dessas palavras que nos dão coragem quando ela mais falta. Hoje Jesus nos diz essa palavra. E para nossa grande surpresa, Jesus nos declara: “Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!” (Mt 5,13.14).

Não é uma palavra qualquer, dita por uma pessoa qualquer, dirigida a uma pessoa qualquer. É Deus quem fala. E é uma palavra dirigida a mim que o ouço. Não é apenas de forma coletiva e generalizada que Jesus pronuncia esta palavra. Ele a diz a cada um daqueles que o escutam, àqueles que há muito tempo atrás estavam à beira do lago, e a nós que hoje estamos aqui e recebemos toda a força dessa surpreendente declaração.

Ora, cada um de vós aqui presente poderia me perguntar: “Mas, Dom Martinho, seria eu o sal da terra? Se entendi corretamente, sendo o sal aquilo que dá sabor, você está me dizendo que eu seria capaz de dar sentido à uma vida, de conferir aquele sabor sem o qual a vida seria por demais insípida? Seria eu, Dom Martinho, a luz do mundo? Se compreendi corretamente, você está me dizendo que eu seria para este mundo que não sabe de onde vem nem para onde vai, uma luz que pode iluminá-lo?”

Sim, meu caro irmão, eu sei que isso é surpreendente! Ainda mais porque nós nos conhecemos suficientemente bem para saber que dificilmente somos luzes e que às vezes a dúvida ou o pecado nos pesam tanto, que tornam nossas vidas insípidas e obscuras em vez de luminosas. Entretanto, o Senhor Jesus diz exatamente isso: “Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!

Na verdade, o que Jesus enfatiza aqui são tesouros que ele mesmo depositou em nós. Pois quem é a luz do mundo e o sal da terra, senão o próprio Cristo? Mas o que é maravilho nisso é que ele compartilha conosco aquilo que ele é. E é por isso que ele nos diz hoje que esse dom não deve ser desperdiçado nem negligenciado, porque, assim como não há um substituto para o sal, da mesma forma nada pode substituir a sabedoria que vem de Deus e que nos é transmitida por nosso Batismo. E assim como nada substitui a luz do dia, nenhum tipo de elucidação espiritual pode substituir a luz que vem do próprio Deus. Por isso Jesus nos adverte. É como se ele nos dissesse: “não percam, não desperdicem aquilo que vos dei, porque isso não vem de vós, mas do Espírito Santo dentro de vós”.

Essa palavra nos toca diretamente. Ela deve dar à nossa vida um impulso e um dinamismo incomparáveis. Quer seja eu um jovem ou um venerável ancião, quer esteja eu no auge de minha vida ou doente e fragilizado, quer esteja eu em estado de graça ou pesaroso com o meu pecado, não importa: há em mim essa luz que vem d’Aquele que nasceu da Luz, há em mim aquela Sabedoria que vem do Verbo de Deus.

Por isso Jesus nos exorta a não duvidar, a não sufocar aquilo que d’Ele recebemos. Ele nos encoraja a considerar que nossas vidas, nossa oração e nosso testemunho trazem consigo uma mensagem de luz que não podemos negligenciar e nem deixar se calar.

Caros irmãos e irmãs, em tempos em que sentimos que nossa fé e nossa Igreja são ameaçadas, em tempos em que vemos, não sem certa angústia, erguerem-se regimes e ideologias que nos odeiam e que não hesitam em usar de violentas calúnias – para não dizer “fake news” – com o intuito de sufocar o Espírito Santo, é nesse momento – é hoje! – que nós recebemos essa palavra de Jesus como um extraordinário estimulante.
Nestes tempos obscuros, de perseguições ideológicas, de caluniosas notícias contra os cristãos, tão absurdas que beiram à estupidez, o Ressuscitado lembra a seus irmãos em glória – nós! – que temos um digno lugar a ser assumido na sociedade. Jesus nos lembra que temos uma vida digna a ser levada em liberdade, temos uma palavra de verdade a ser dita sem medo: seria uma pena duvidar, seria uma pena calar-se, seria uma pena deixar uma lâmpada debaixo de uma vasilha, ou jogar fora o sal para ser pisado pelos homens.

Jesus já havia nos advertido quando disse que nos enviaria “como cordeiros no meio de lobos” (Lc 10,3). E não nos deu outras armas senão essa luz e essa sabedoria que vêm do alto. E mesmo que sejamos mortos, como não hesitaram em fazer com Nosso Senhor, ninguém pode extinguir essa luz, ninguém pode diluir essa sabedoria do Altíssimo que está em nós, desde que nós não a renunciemos, desde que não deixemos o sal perder seu sabor, desde que não deixemos a luz se apagar.

Eis, caros irmãos e irmãs, a forte e admirável palavra que Jesus está nos dizendo hoje! Eis a grande responsabilidade que ele nos dá. Eis a bela missão que ele nos confia neste mundo tão difícil: “Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!

Tudo passará. Nós passaremos. Mas esta Palavra não passará. Ela é a nossa força. Ela é a nossa glória. E ela é eterna.

Amém!

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