Homilia para o 11º Domingo do Tempo Comum,
proferida a 14 de junho de 2020
por Dom Martinho do Carmo OSB
Ex 19,2-6a; Sl 99; Rm 5,6-11; Mt 9,36-10,8
Caros irmãos e irmãs
HOJE, duas palavras ressoam particularmente em nossos ouvidos e devemos ouvi-las muito bem – especialmente aqueles que estão impossibilitados de participar presencialmente da celebração Eucarística –, pois o Senhor acaba de nos dizer que, se ouvirmos a sua voz, seremos sua “porção escolhida”, seu bem mais precioso.
Eis a primeira dessas palavras, que ouvimos na segunda leitura da Carta de São Paulo ao Romano: “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8). E eis a segunda, ouvida neste evangelho de São Mateus: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. (Mt 9,36).
Sim, quando éramos pecadores, Cristo nos amou até a morte! Ao ver a multidão abatida, Jesus é tomado por compaixão! Portanto, o ensinamento da liturgia deste domingo é esse olhar de Deus sobre nós. Ele vem ao encontro de nossa humanidade cansada, desanimada, desorientada. Ele nos vê andar em círculos, em rotina de distanciamento controlado ou até confinamento social, sem grandes perspectivas, talvez até sem esperança, nos deparando com nossos limites e com essa estagnação de morte que torna tudo tão precário. Temos anseio por uma vida plena, temos anseio pela eternidade, mas nos atolamos na lama. Sonhamos com grandes coisas, mas a atual limitação da vida cotidiana nos domina e nos sufoca. Nós, hoje, não vivemos; nós sobrevivemos!
Mas, segundo o evangelho de hoje, o Sagrado Coração de Jesus, que celebraremos na próxima sexta-feira, está comovido! Em seu divino coração – que também é verdadeiramente humano! –, Jesus experimenta e compartilha essa nossa angústia. E ele não o faz passivamente. “Jesus Cristo, existindo em condição divina” (Fl 2,6), vê as coisas do ponto de vista de Deus, e assegura-nos que a messe será abundante, mesmo que os trabalhadores sejam poucos. Ele mesmo escolhe e chama os trabalhadores necessários. Ele não nos abandona, mas confia-nos aos pastores dos quais temos necessidade para nos guiar: são os Doze cujos nomes são mencionados no Evangelho. E ele lhes confia poderes divinos para curar os doentes, ressuscitar os mortos, expulsar demônios!
Ele os envia para o coração dessa multidão abatida. Ele lhes confia, em primeiro lugar, a Missão de falar em nome de Deus, a Missão de dizer esta Palavra poderosa que tem o poder de reerguer, de endireitar, de dar vida, porque essa palavra é de Deus. Ele lhes confia a missão de reunir aqueles que caminham sem rumo e de convidá-los a entrar em seu Reino.
Caros irmãos e irmãs, eis a boa nova que a Liturgia de hoje nos traz: “O Reino dos Céus está próximo” (Mt 10,7), e nós somos os beneficiários desta intervenção misericordiosa e compassiva de Deus. Nós somos o povo outrora dispersos e abatidos, mas hoje reerguidos e reunidos. É a nós que Jesus enviou os Doze e seus sucessores, e foi a nós que eles anunciaram a palavra da vida, foi entre nós que eles curaram enfermos e expulsaram demônios. É a nós que Deus, por meio de Cristo Jesus, transmitiu sua própria vida, e isso “quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8). Entretanto – e não podia ser diferente – é também a nós que ele hoje confia o ministério da compaixão, da misericórdia e da reconciliação.
De graça recebestes, de graça deveis dar! (Mt 10,8)
O que Deus fez por nós, devemos também fazê-lo por nossa vez. Jesus nos confia sua palavra. E não devemos duvidar que ela agirá no mundo, porque ela já agiu primeiro em nós.
É como se o Senhor nos dissesse: “não busqueis números nem resultados satisfatórios à visão humana. Apenas anunciai aquilo que vós mesmos aprendestes de Deus que, por pura graça, iluminou e transformou vossas vidas.
Meus irmãos e minhas irmãs, aqui estamos, tal como os Doze, investidos de um fardo pesado. Recebemos muito, e devemos, por isso, dar largamente. Mas, não nos é pedido que façamos tudo, pois é Deus quem age em tudo. Jesus apenas nos convida a redobrar nossas orações, para que o Dono da messe envie trabalhadores para sua colheita. Ele nos pede para não renunciar ao anúncio do evangelho. Ele pede que não fiquemos desencorajados ao ver as multidões de nossos dias que se afastam de Deus, seguindo suas paixões ou as pressões do Inimigo.
Ele nos pede para compartilhar essa imensa compaixão para com a miséria do mundo; Ele nos pede que sempre nos lembremos de que Deus nunca abandona aqueles que Ele criou para compartilhar sua glória (cf. Is 43,7)! Caros irmãos e irmãs, ainda vivemos uma grande provação. Uma provação social, pois estamos longe daqueles que amamos; uma provação econômica que gera incertezas para o nosso futuro; uma provação na fé, pois muitos ainda não têm pleno acesso à Eucaristia. Mas, se por causa disto vós vos sentistes “como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36), saibamos todos que a própria Palavra de Deus nos garante uma forma absolutamente eficaz de colocarmo-nos na presença real de nosso Senhor e Salvador, tal como nos é descrito na 1ª leitura:
“Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida”.
Ex 19,5
E isto é Palavra do Senhor!
Amém!
Após a comunhão
Caros irmãos e irmãs, desde o início da quarentena na Itália, quando a missa no Vaticano era celebrada sem a participação dos fiéis, o Papa Francisco sempre convidava àqueles que não podiam comungar sacramentalmente a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Papa Francisco