Homilia para a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus,
proferida a 11 de junho de 2020
por Dom Martinho do Carmo OSB

Dt 7,6-11; Sl 102; 1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30

Caros irmãos e irmãs

OS evangelhos escolhidos para a festa do Sagrado Coração de Jesus variam de acordo com o ciclo trienal da liturgia: no ano B, o evangelho de São João permite-nos contemplar o coração traspassado do Cristo na cruz; no ano C, o evangelho de São Lucas fala-nos do Bom Pastor à procura da ovelha que anda perdida, e que quando a encontra, carrega-a alegremente em seus ombros. Neste ano A que estamos vivenciando, a passagem escolhida do evangelho de São Mateus parece estar menos diretamente relacionada ao tema da festa que celebramos e sua estrutura não é muito homogênea. Entretanto, temos no texto duas palavras de Jesus que indicam os sentimentos que habitam o coração do Cristo e, portanto, conduzem-nos a entrever o mistério do coração de Deus e a deixar que Ele modele o nosso próprio coração.

Jesus primeiro se apresenta como Aquele que é habitado pelo louvor: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra”! Jesus é Aquele que tem o coração inteiramente voltado para o Pai e inteiramente transbordante de ação de graças. Um coração que exulta em sua missão de enviado do Pai, porque compreende que esta missão o torna encarregado de revelar aos seres humanos sua verdadeira face de amor e de misericórdia, e que ainda se regozija em saber que a ternura deste seu Pai é particularmente sensível “aos pequeninos”, àqueles quem mais têm necessidade de sentir seu olhar de benevolência e de amor incondicional.

A segunda qualidade do Coração de Jesus, tal como ele mesmo a define, é a mansidão. Ele “não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito”. (Is 42,3; Mt 12,20). Se “o seu jugo é suave e seu fardo é leve”, é porque, longe de aumentar os pesos que sobrecarregam a vida, ele veio carregá-los conosco, ele que escolheu carregar a Cruz até a morte. Assim, por meio do louvor e da mansidão, também nós podemos “encontrar descanso” n’Aquele que é o único que pode nos dar descanso de tudo o que nos preocupa, e assim encontrar a paz e o amor que nem sempre o mundo nos dá. E poderemos tentar, igualmente, ver os outros como Deus os vê, e trabalhar para aliviar seus fardos, além de nos alegrar com aquilo que os faz crescer.

Irmãos (e irmãs), para concluir, gostaria de lembrar-vos que, no dia solene do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja costuma convidar todos os seus filhos a rezarem pela santificação dos sacerdotes. O sacerdote tem como seu primeiro ofício ser o ministro do amor misericordioso de Deus para todos os seres humanos, para fazê-los conhecer esse amor, e ajuda-los a vivenciá-lo. Este é o sentido do sacramento que eles administram, pois os sacramentos nada mais são do que meios de comunicar o amor que jorra do Coração de Cristo. Celebrando nesta manhã a Eucaristia, voltemo-nos para o coração humano, traspassado, mas glorificado de Jesus Cristo, e, recebendo seu Corpo e seu Sangue como alimento, possamos experimentar em verdade que o seu coração está ardendo de amor por todos os seres humanos, e particularmente por cada um de nós aqui presentes.

Amém!

Após a comunhão

Caros irmãos e irmãs, desde o início da quarentena na Itália, quando a missa no Vaticano era celebrada sem a participação dos fiéis, o Papa Francisco sempre convidava àqueles que não podiam comungar sacramentalmente a fazer a Comunhão espiritual com a seguinte oração:

Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!

Papa Francisco
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