HOMILIA DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR – (Mc 14,1-15,47)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Em preparação para o Jubileu de 2025, o papa Francisco dedicou este ano como Ano da Oração. Deste modo, gostaria de chamar a atenção para este aspecto do momento crucial da vida de Jesus, sublinhado pelos evangelistas, que antecede a sua Paixão.

Como ouvimos no relato da Paixão, ao chegar com os discípulos ao Getsêmani, Jesus se retira para rezar. Podemos aqui entrever Jesus em sua mais profunda intimidade. Antes de ser entregue, Jesus ora com insistência ao Pai. Uma oração dolorosa, cheia de angústia e que toca o desespero, mas ao mesmo tempo, uma oração profundamente confiante e aberta à esperança.

É na oração que Jesus encontra, se assim podemos dizer, seu segredo. E ele o confiou a seus discípulos no Getsêmani quando os encontra adormecidos. Isto que ele lhes diz não constitui apenas uma reprovação, mas a revelação de um caminho, a transmissão de uma tática espiritual: Simão, tu estás dormindo? Não pudeste vigiar nem mesmo uma hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação! Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14, 37-38).

Tudo está dito nesta frase, concernente à Páscoa de Jesus e à nossa. A fraqueza desesperada da carne e o ardor invencível do espírito se encontram e se afrontam na luta da oração. O Espírito, com “E” maiúsculo, que, precisamente na hora da oração vem em auxílio de nossa fraqueza, pois não sabemos orar como convém, como nos lembra São Paulo (Rm 8,26).

Assim, é orando que Jesus entra em sua Páscoa, que ele atravessa os terrores de sua agonia no Jardim. E ainda, é clamando – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” – que ele expira na cruz. Nós também, em seu seguimento e ouvindo a sua exortação a vigiar e orar, somos chamados a tomar o mesmo caminho, para que a força do Espírito de Jesus possa se manifestar plenamente, dia após dia, em nossa fraqueza (2Cor 12,9).

Atravessar as trevas da provação e da morte não é tarefa fácil para nenhum de nós, como não foi nem mesmo para o Filho de Deus. Assumindo o caminho da Paixão, Cristo assumiu o nosso caminho, assumiu sobre ele todas as nossas dores e a nossa morte. Por isso, se queremos avançar e atravessar esse vale de trevas para contemplar a Luz da Ressurreição, como Ele, precisamos orar, precisamos ser movidos pelo Espírito.

Ouçamos o convite que nos foi feito para iniciarmos a procissão: “Hoje aqui nos reunimos e iniciamos, com toda a Igreja, a celebração do mistério pascal de nosso Senhor, sua morte e ressurreição.” … “Por isso, celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador”. Sim, iniciamos hoje o nosso caminho com Jesus para viver com Ele a sua Páscoa, seguindo seus passos até a cruz, para com Ele ressuscitar para uma vida nova. Amém.

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