Deus-para-os-outros

As leituras da liturgia destes últimos domingos da Páscoa preparam-nos gradualmente para a festa de Pentecostes, a partir do discurso após da Última Ceia, onde Jesus falou de várias maneiras sobre o amor aos seus discípulos. De fato, é o Espírito Santo quem “derrama o amor de Deus nos nossos corações” (cf. Rm 5, 5), e devemos estar preparados para compreender o que é este dom do amor verdadeiro. É no Quarto Evangelho e na Primeira Carta de São João, ouvidos neste domingo, que encontramos os ensinamentos mais profundos sobre o amor que Deus nos dá para torná-lo nosso Amor.

Acreditar na Vida

Ele quis! Ele esperou por isso desde o pecado das origens, desde a criação, talvez desde toda a eternidade, este momento de definitiva vitória sobre o mal, este instante em que sua criatura tornar-se-á tão bela quanto possível à sua imagem. Os profetas falaram sobre isso, as Escrituras o anunciaram, viria o dia em que todo o mal e todo o pecado, e até mesmo a morte, seriam vencidos. O que Deus quer não é a morte, mas a vida. Ele não quer o pecado nem a condenação, mas perdão e salvação. É a Misericórdia que ele deseja e a realiza por meio de seu amado Filho Jesus Cristo. E eis que, nesta manhã de Páscoa, de uma vez por todas, a miséria dos homens, a condenação, são superadas pela ressurreição daquele que amou até o fim.

O Maior Sinal de Amor

Caros irmãos e irmãs, Jesus hoje se despede dos discípulos celebrando a páscoa judaica. Mas, fazendo isso, Ele une seu drama pessoal à história sagrada de seu povo. Seus gestos fazem disso memória e renovam profundamente sua validade: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória” (1Cor 11,25). Abrir a celebração do Tríduo Pascal em nosso contexto tão estranho e até opressor de pandemia, é também unir o nosso drama ao de Jesus, ecoando o drama dos Hebreus – oprimidos e depois confinados em suas próprias casas – quando a morte causada pela “praga exterminadora” passava e atingia os primogênitos egípcios, mas que, enfim, foram libertos pelo poder de Deus.

O Templo do Corpo de Cristo

Envolver-se com comércio sob o pretexto de adoração é literalmente profanar o lugar santo, zombar de seu caráter sagrado, em suma, é cometer sacrilégio. Este templo, havia sido explicitamente aprovado por Deus, e é por isso que a palavra do salmo 69 se aplica a Jesus: “O zelo por tua casa me consumirá”, palavra que ilumina toda a passagem.

Identidades

Cristo dirige-nos o seu grito enérgico de autoridade: “Cala-te e sai dele!” (Mc 1,25). Ele disse isso aos espíritos malignos que vivem em nós e que não nos deixam ser livres, tal como Deus nos criou e desejou. “Cala-te” é o “exorcismo” que Jesus profere sobre o mal. Talvez seja por isso que Nosso Pai São Bento deseja tanto que seus monges busquem viver o silêncio. Como diz o ditado “O bem não faz ruído; o ruído não faz bem”. O mal não pode conviver com o bem. A vida santa não permite o pecado.

As Núpcias do Cordeiro

Hoje, no Jordão, acontece uma nova manifestação da divindade de Jesus: o céu se abre e o Espírito Santo, em forma de pomba, permanece sobre ele, ao mesmo tempo em que se ouve a voz do Pai: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11). Hoje é o próprio Pai e o Espírito Santo que nos manifestam o Salvador. É Deus mesmo que nos revela quem é Jesus: seu Filho amado. E n’Ele todos nós também o somos e participamos deste mesmo amor trinitário!

A Estrela da Fé

Neste ano de 2021, recebemos esta página com uma atenção muito particular: nas dificuldades e incertezas que vivemos, encaixa-se perfeitamente a pergunta dos Magos: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer?” Onde está Deus? Viemos aqui e gostaríamos de adorá-lo, mas não sabemos onde ele está. Somos, portanto, irmãos e irmãs, hoje convidados a considerar esta aventura dos Magos, não como uma simples anedota, nem mesmo como apenas o cumprimento de uma profecia, mas como uma imagem de nossa própria vida espiritual.