HOMILIA DO PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
ANO C (Lc 21,25-28.34-36)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Temos a graça de iniciar um novo Ano litúrgico e este ano, particularmente, pois celebramos o Jubileu do Nascimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ao longo do Ano litúrgico atualizamos os Mistérios de Cristo, morto e ressuscitado, revivendo, através da liturgia, a sua ação salvífica em nossa vida e no mundo, desde seu nascimento até a sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Através do Tempo do Advento, que significa “chegada”, a Igreja nos coloca no caminho da preparação desta vinda definitiva de Jesus, mas também da celebração de sua primeira vinda no Natal.
Entre estas duas vindas a Igreja caminha, como peregrina, animando seus filhos a recomeçar, a tomarem novo fôlego e não desanimarem diante dos combates e dificuldades deste mundo, a não diminuírem o passo quando a fadiga e a desilusão se abatem sobre nós, a não temerem as adversidades, as catástrofes, as tribulações desta vida. A Igreja nos convida a ouvir a promessa que o próprio Senhor nos faz hoje: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (v.28).
O Senhor nos exorta ainda a estarmos atentos, vigilantes. Sabemos bem que nossa tendência é de nos enredarmos de tal modo com as coisas do mundo, com nossas preocupações materiais, egoístas e narcisistas, que facilmente nos esquecemos de nossa busca de Deus. “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” (v.34), ou seja, o cuidado que devemos ter com a sobrevivência, com as coisas que mantém a vida, se transformam em obstáculo para alcançar o Reino de Deus; ficamos embriagados, insensíveis e incapazes de contemplar os bens eternos.
A atitude que Jesus insiste que devemos assumir é a vigilância. Mas essa vigilância é um combate. As tribulações de que fala o Evangelho, que tocam os céus, a terra e os mares, não pretendem provocar o medo em nós, mas despertar a nossa esperança. Há um convite a retomarmos o fôlego e levantar a cabeça em meio às dificuldades e sofrimentos deste mundo pois há em nós a certeza de que o Senhor virá; não importa qual seja a situação de tribulação, de confusão, de medo que nos envolva, porque Ele chega hoje em meio ao nosso caos e dá sentido a todo, devolve a esperança e refaz as nossas forças.
O tempo do Advento é este momento de graça em que somos convidados a recomeçar, com nova esperança, com novo ardor, o nosso caminho com o Senhor, em busca de seu Reino. O Evangelho nos exorta a deixarmos nosso comodismo de lado, assumindo uma postura de vigilância, de conversão, sobretudo, na oração, para podermos nos levantarmos com coragem e enfrentar as dificuldades da vida com um olhar iluminado pela fé. A liturgia dessas próximas semanas nos ajudará a viver mais profundamente esta dinâmica de abertura e acolhimento do Dom da chegada de Cristo no Natal, mas também em cada situação de nosso cotidiano para que possamos estar preparados a acolhê-lo em sua vinda gloriosa. Deixemos que o Espírito Santo trabalhe em nosso coração, como o fez no coração de Maria, para que de fato o Senhor encontre espaço para nascer em nós, nos fazendo renascer em sua graça.
Maria, Mãe daqueles que caminham e esperam a chegada de vosso Filho, rogai por nós.