Solenidade de Cristo Rei – João 18,33b-37
D. Afonso VIEIRA,OSB
Irmãos e irmãs, nesse Evangelho que acabamos de ouvir, Jesus assume a sua realeza diante de Pilatos. No entanto deixa claro que a sua realeza não é de poder, de autoridade, de domínio, de ambição, como com os reis da terra. A missão “real” de Jesus é dar “testemunho da verdade”; Verdade que é concretizada no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida. Já na primeira leitura, Deus anuncia que vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueldade, a violência e a opressão que marcam a história dos reinos humanos, através do “filho de homem” que vai aparecer “sobre as nuvens”, e assim será devolvido à história a sua dimensão de “humanidade” e os seus filhos poderão caminhar em paz.
O Evangelho da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo leva-nos até ao “pretório”, situado em Jerusalém, onde se albergava a guarnição romana de Jerusalém. Jesus tinha sido para aí levado depois de, na madrugada desse dia, ter sido considerado “réu de morte” pelas autoridades religiosas judaicas reunidas no palácio do sumo-sacerdote. O interrogatório de Jesus começa com uma pergunta direta, lançada por Pôncio Pilatos (vers. 33b): “Tu és o Rei dos judeus?” Este início de interrogatório revela qual era a acusação apresentada contra Jesus, e na sua resposta o Senhor se assume como o Messias que Israel esperava e confirma a sua qualidade de “Rei”; no entanto, descarta qualquer identificação com os reis que Pôncio Pilatos conhece e com a forma como eles exercem a realeza (vers. 36). Os reis deste mundo são autoritários e prepotentes, e não medem esforços para permanecerem no poder… Jesus, ao contrário, não procurou ter poder, mas se coloca à disposição para servir a todos, especialmente os pobres e os humildes; não quis defender os seus próprios interesses, mas se fez obediente à vontade de Deus, seu Pai. Não pensou em acumular riquezas, mas em amar os homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de uma outra ordem, é da ordem de Deus. É uma realeza que contrapõe o amor ao poder. É uma realeza que toca os corações e que, em vez de produzir morte, produz vida. Jesus é Rei e Messias, mas não impõe a ninguém o seu reinado; apenas propõe aos homens um mundo novo, assentado no amor, na doação, e entrega no serviço.
Como na segunda leitura, Jesus é apresentado como o Senhor do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o “príncipe dos reis da terra”, Aquele que há de vir “por entre as nuvens” cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. Essa é, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de “filho de homem” de que falava a primeira leitura. A realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em “dar testemunho da verdade” (vers. 37b). A “verdade” que é a realidade de Deus. Uma “verdade” que se manifesta nos gestos de Jesus, nas suas palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no seu amor vivido até ao extremo do dom da vida. A “verdade” (isto é, a realidade de Deus) é o amor incondicional e sem medida que Deus derrama sobre o homem, e que, uma vez acolhido, conduz à vida verdadeira e definitiva. Essa “verdade” que se opõe à “mentira”, que é o egoísmo, a opressão, a injustiça e tudo aquilo que mata a vida do homem e o impede de alcançar a plenitude. A “realeza” de Jesus concretiza-se na luta contra esse egoísmo que escraviza o homem e que o impede de ser livre e feliz; Jesus propõe uma realidade que não se impõe pelo poder e pela força, mas que se alcança através do amor, do serviço simples e humilde em favor dos irmãos. É esse “reino” que Jesus veio propor; é a esse “reino” de amor que Ele preside, e essa maneira de reinar de Jesus nos provoca a uma resposta. Quem é de Deus e pretende viver de acordo com a realidade de Deus, escuta a voz de Jesus; compromete-se a segui-l’O, renuncia ao egoísmo e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos (vers. 37c) e se integra ao “Reino de Deus”.
A Solenidade de Nosso Senhor, rei do universo, significa que, depois de termos caminhado com Jesus ao longo de um ano inteiro, cremos que Ele é o nosso guia, o nosso verdadeiro mestre e Senhor. Depois de termos andado com Ele por tantos caminhos e de termos enfrentado com Ele tantos desafios, confiamos incondicionalmente nas suas orientações e propostas; e, depois de termos experimentado a sua amizade e o seu amor, queremos continuar com Ele toda em nossa vida, depois de termos caminhado ao ritmo das suas palavras e de termos sido alimentados com o seu Pão, nos sentimos mais fortes, mais livres, mais próximos da vida verdadeira que buscamos; Essa Solenidade significa que, tendo constatado a centralidade e a importância de Jesus na nossa vida, queremos construir à volta d’Ele toda a nossa existência. Aceitamos a sua “autoridade”, não porque Ele nos impõe o seu poder, mas porque Ele nos toca com o seu amor. Há tantas formas de ver a verdade! Cada um de nós procura fabricar a sua pequena verdade pessoal… Porém, a verdade só se pode encontrar em Jesus, pois Ele veio para olhar os homens à luz do olhar de seu Pai, para testemunhar esse olhar. Só o olhar do Pai pode dizer a última verdade de cada ser. Este olhar de amor infinito. Jesus não condena ninguém, nem sequer Pilatos, nem os seus carrascos, somos nós mesmos, as nossas atitudes que nos condenam. Cristo é Rei do universo, sob a condição de não se esquecer que o seu Reino não é somente o amor da verdade. É primeiramente a Verdade do Amor. Por isso damos graças por tudo aquilo que pudemos viver. Individualmente, em família e em comunidade, durante esse ano, e recordamos momentos concretos que marcaram o crescimento de nossa fé, e entregamos ao Senhor tudo aquilo que, como Dom, Ele nos entregou primeiro. Nossa vida! E O proclamamos Senhor e Rei do Universo!