HOMILIA XV DOMINGO TC-B (Mc 6,7-13)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

A conclusão do episódio do Evangelho do último domingo, na sinagoga de Nazaré, nos indica a lamentável constatação de Jesus sobre seu povo: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Mc 6,4).  Jesus fica decepcionado diante do fechamento e da falta de fé dos seus. A única alternativa para um profeta que não é recebido pela sua gente é buscar outros que o ouçam. Por isso Jesus deixa Nazaré e começa a percorrer outros povoados para ensinar.

Mas Jesus não vai sozinho: os doze discípulos escolhidos o acompanham e recebem uma missão. São enviados dois a dois, como testemunhas, para anunciar o Reino de Deus e o chamado à conversão. Assim, sem deixar de ser o centro (a fonte) Jesus lhes confia a sua própria missão, recebida do Pai.

Eles partem revestidos de autoridade e poder, não deles, mas de Jesus, para prolongar e ampliar a sua ação salvífica, simbolizada, sobretudo, pelo poder de falar em seu nome, curar os doentes e expulsar demônios.  Esta missão, que acontece durante a vida de Jesus, prefigura a definitiva missão, que se prolongará na história após a morte, ressurreição e ascensão do Senhor, de modo ainda mais amplo e eficaz, pois o Espírito Santo enviado em Pentecostes, capacitará a Igreja, através de seus ministros e de seus membros, a agirem em nome de Cristo.

Jesus envia os doze, mas o Evangelho não nos diz qual o conteúdo da pregação dos enviados, a não ser que “pregaram que todos se convertessem” (6,12). Contudo, o Senhor lhes recomenda o modo como devem ir e se apresentar: “Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas” (6,8-9). 

Ao que parece, o modo de ser e viver dos discípulos vale mais do que o conteúdo de sua pregação. O estilo de vida do discípulo de Jesus, fundamentado na simplicidade e no desapego, deve falar mais alto que suas palavras. Nada que sugira interesse ou vantagem pessoal podem desacreditar a mensagem da qual são portadores. 

Esta recomendação de despojamento, mais que simples pobreza e desapego material, significa que o discípulo deve confiar absolutamente em Deus, que não lhe deixará faltar nada, como nos explica São Gregório Magno; caso contrário, “concentrando sua mente nas coisas terrenas, buscará com menos empenho as eternas”.

Contudo, Jesus já adverte os discípulos que a missão pode fracassar. Como Ele mesmo foi rejeitado em sua cidade natal, os enviados também podem encontrar ouvidos surdos e corações resistentes ao anúncio de conversão e à mensagem de paz (cf. Mt 10,13). Jesus declara que a mensagem é boa notícia para os que a recebem e se converte em juízo e condenação para os que a rejeitam.

Ouvindo este Evangelho podemos correr o risco de achar que ele não se enquadra em nossas aspirações, que não diz respeito ao nosso modo de vida ou à nossa vocação. Nós monge podemos pensar que não é nossa vocação sair pelos caminhos do mundo para anunciar o Evangelho, por isso podemos continuar tranquilos em nosso mosteiro. Os leigos, casados ou solteiros, podem pensar que sua vocação não é a pregação, que esta mensagem de hoje vale para os padres, para os missionários, mas não para nós. Mas isso é um engano.

Todos nós, batizados, discípulos de Cristo, somos hoje enviados ao mundo para testemunhar o Reino de Deus e convidar os homens e mulheres de nosso tempo à conversão. E isso se faz com nosso modo de ser, com nosso testemunho de vida, muito mais que com palavras. Este modo de vida, como vimos, se fundamenta na simplicidade, no despojamento e na confiança em Deus. Mas até que ponto estamos dispostos a colocarmos em segundo plano nossas preocupações com as coisas materiais, com as seguranças deste mundo e com o nosso bem-estar pessoal para sermos instrumento de Deus na obra de evangelização e transformação do mundo?

Frequentemente nos lamentamos pela situação de desnorteio em que vive a nossa sociedade, pela falta de fraternidade entre os povos, pelo espírito de ganância que impera em nosso meio, mas o que fazemos para mudar isso? Qual a nossa atitude para que esses “espíritos impuros” sejam expulsos?

Acolhamos a vocação e a missão que o Senhor nos dá para sermos “enviados”, Apóstolos do desprendimento e da confiança em Deus. Nosso modo de vida e nosso testemunho podem interpelar aqueles que estão em busca de uma direção, em busca de um sentido para suas vidas, seja na comunidade, seja na família, no trabalho, na sociedade em que vivemos. Sejamos generosos, dando aos outros aquilo que nós mesmos recebemos de graça.

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