HOMILIA DO XII DOMINGO TC B (Marcos 4,35-41)
Dom Afonso VIEIRA, OSB
Quem é ele, que até o vento e o mar lhe obedecem?
Irmãos e irmãs, esta passagem do Evangelho, descreve para nós a situação da humanidade na sua lenta história e esse episódio nos fala do plano divino que o Filho de Deus quer realizar, e lá na primeira leitura nós vemos que Deus se revela a um homem chamado Jó, como o Senhor que domina o mar e conhece os segredos do universo e da vida. Nada na criação lhe é indiferente, pois Ele cuida de todos os seres criados com amor de pai. Ao homem resta entregar-se nas mãos desse Deus omnipotente e cheio de amor, com humildade e com total confiança. Mas como Paulo somos convidados a olhar para a cruz e a contemplar o amor de Jesus expresso na entrega total da sua vida ao Pai em favor dos homens, pois Deus enviou o seu Filho para caminhar conosco e nos ensinar a viver no amor. É precisamente isso que move Paulo no seu apostolado, porque ele considera que a sua missão é dar testemunho desse amor, a fim de que todos os que escutam a Boa nova de Jesus possam viver como pessoas novas, libertas do egoísmo que escraviza e mata.
Na nossa vida, muitas vezes chega a noite, o medo e a dúvida. O fim do dia e das suas certezas. É Jesus convida a sua Igreja a atravessar o mar e a “passar” para a outra margem. Somos convidados à Páscoa que é uma “passagem”, assim como a passagem do Mar Vermelho para o povo eleito, libertado da escravatura e conduzido à liberdade; passagem da morte para o Filho do Homem libertado do pecado e conduzido à glória. A outra margem é a margem de Deus, a margem que não se vê e cujo caminho Jesus revela (Jo 14,4).
A barca que atravessa o lago com os discípulos e Jesus, tal como a arca de Noé, foi construída especificamente para “passar”. Mas vem a tempestade e o barco se enche de água que tira o fôlego do homem. É uma luta. A ausência de Jesus pesa no nosso coração e sem vê-lo temos medo e as vezes pensamos que nunca faremos a travessia. Mas a oração insistente, daqueles que clamam por Jesus, é ouvida. Ele acorda. O Senhor vem em nosso auxílio. Ele está lá, como prometeu (Mt 28,20). Jesus salva a sua Igreja de todas as tempestades que ameaçam afundá-la. Ele não culpa ninguém por não o terem acordado imediatamente, mas culpa-os pela falta de fé. É preciso rezar-lhe, e rezar com fé. O medo da morte é então substituído pelo temor de Deus, que é a obediência dos fiéis ao seu Salvador. É esta a nossa situação, a fraqueza do nosso corpo é fortalecida pela presença de Cristo, que nos conduz.
Hoje nós podemos nos perguntar quais são os ventos que sopram sobre a minha vida, quais são as ondas que me impedem de navegar e põem em perigo a minha vida espiritual, a minha vida familiar e até o meu psíquico? É preciso chamar Jesus, conversar com ele, contar o que está acontecendo, porque Ele quer que nos agarremos nele para nos abrigarmos das ondas da vida.
A nossa fé começa ao reconhecer que não somos capazes de navegar sozinhos, que precisamos de Jesus como os marinheiros das estrelas para encontrar o nosso rumo. A fé começa ao acreditar que não somos suficientes por nós próprios, mas que Deus é nosso sustento e vem em nosso auxílio. Quando vencemos a tentação e saímos de nós mesmos, quando vencemos a falsa religiosidade que não quer incomodar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode fazer maravilhas em nós.
Hoje nós somos convidados a abrirmos ao poder suave e extraordinário da oração que faz milagres. Jesus, a quem os discípulos rezam, acalma o vento e as ondas. Ele lhes faz uma pergunta, a mesma que também faz a nós: “Porque temeis? Ainda não tendes fé?” (v. 40). Os discípulos tinham ficado com medo, porque olhavam para as ondas em vez de olhar para Jesus. O medo nos leva a olhar para as dificuldades, para os problemas, e desvia o nosso olhar do Senhor. Quantas vezes nós olhamos para os problemas em vez de irmos falar com o Senhor e lhe contar nossas angústias! Quantas vezes deixamos o Senhor num canto, no fundo do barco da vida, para o acordar na hora da necessidade!
Só Deus tem todas as respostas, só Deus conhece os segredos do universo e da vida. Ao homem, finito e limitado, resta entregar-se nas mãos desse Deus omnipotente e cheio de amor, adorá-l’O e louvá-l’O, confiando na sua sabedoria, somos chamados a colocar n’Ele nossa sua esperança e salvação. Peçamos hoje a graça de uma fé que não se cansa de procurar o Senhor, de ir ao seu encontro e de se lançar!