3º DOMINGO DA QUARESMA (B) Jo 2, 13-25

D. Afonso VIEIRA, OSB

Irmãos e irmãs, a Quaresma é um período privilegiado para que a Palavra de Deus penetre profundamente em nós, pois ela abre espaço para que Deus aja em nosso ser e venha fazer morada em nós. Nesse sentido, a Palavra de Deus não nos preenche, mas abre espaço para que Deus nos preencha. O Evangelho deste domingo nos mostra que olhando para Jesus, percebemos que nas suas palavras e nos seus gestos é que Deus Se revela aos homens e lhes manifesta o seu amor. Nós somos convidados a olhar para Jesus, a nos aproximar dele, a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa vida nova em Deus.

A imagem que vemos no Evangelho de hoje do Templo, lugar do encontro de Deus com o seu povo, transformado numa casa de comércio, um lugar de idolatria, nos fala da ganância, de reduzir a religião a um negócio lucrativo, pensando que se pode manipular Deus com um dízimo, com um rito ou com um volume da Bíblia! Mas O Senhor nos previne “Eu sou o Senhor vosso Deus que não aceita suborno!” (Dt 10,17) Por isso Jesus age de modo tão violento. Ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. Disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isso daqui! Não façais da Casa de meu Pai uma casa de comércio!’”

Que significa este gesto de Jesus?

É uma pregação pela ação, uma ação profética, um gesto que vale por uma pregação. Jesus está revelando a santa ira de Deus contra o seu povo… Esse é o Jesus de verdade, que é surpreendente, desconcertante! Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco caso d’Ele! Correremos o risco de perdê-lo, de sermos rejeitados do seu coração! Em outras palavras, a conversão é uma exigência fundamental para quem deseja caminhar com Deus, sendo discípulo do Filho Jesus!

Mas, os judeus, ao invés de compreenderem isso, com cinismo criticam Jesus e pedem-lhe um sinal: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Irmãos, quando a infidelidade é grande, quando o nosso coração se habituou no mal, corremos o risco de sermos tomados por essa cegueira, de tal dureza de coração, que já não vemos nem com a Luz! Jesus é a luz que brilha claramente. Sua atitude dura, recorda aos judeus o amor de Deus que foi traído, a Lei que foi deturpada, e eles ainda pedem por sinais… Jesus dá um sinal, terrível, decisivo: “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei”. Ele é um sinal, é um símbolo profético. Ele é o lugar no qual o homem pode encontrar Deus, ele é imagem do Pai. Quando Jesus diz que em três dias eu o erguerei o templo para sempre, Ele nos fala que Ele é o Templo indestrutível, o lugar onde um novo povo poderá para sempre encontrar Deus: o meu corpo morto e ressuscitado!” Eis o sinal, surpreendente, escandaloso. Para a infidelidade do seu povo, Deus responde entregando o seu Filho e fazendo dele o lugar da salvação e da graça, da vida e da vitória da humanidade! É o que São Paulo nos diz na segunda leitura de hoje: “Os judeus pedem sinais, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos”. O sinal que Deus apresenta para Israel, o remédio que Deus preparou para curar a violação da Lei é o seu Filho crucificado, morto e ressuscitado!

Irmãos e irmãs, olhemos para nós, o Novo Povo de Deus, o Povo nascido da morte e ressurreição de Cristo. Não somos mais obrigados a cumprir os detalhados preceitos da Lei de Moisés, mas, somos convidados a olhar o Crucificado, cujo corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e eterna Aliança… olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o meu filho amado! Não terás outros deuses diante de mim!” Os preceitos do Antigo Testamento passaram; mas não a exigência de um coração voltado para Deus, um coração que o ame, um coração sem divisão! E, para nós, a exigência é ainda maior, porque Israel não tinha ainda visto até onde iria o amor de Deus; quanto a nós, sabemos: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

 Jesus é, agora, o Novo Templo onde Deus reside e onde nós podemos encontrar Deus. Os cristãos, membros do Corpo de Cristo, são pedras vivas desse Templo, e esta realidade supõe, para nós, uma grande responsabilidade… Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar a vida nova em Deus. O nosso testemunho pessoal deve ser um sinal de Deus para os irmãos que caminham ao nosso lado. A vida das nossas comunidades deve dar testemunho do Deus Salvador. A Igreja – comunidade dos discípulos de Jesus – deve ser essa “casa de Deus” de portas sempre abertas onde todos podem encontram a libertação e a salvação que Deus oferece.

Irmãos e irmãs, convertamo-nos! Ergamos os olhos para o Crucificado, “Poder de Deus e Sabedoria de Deus”, e mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo de real conversão ao Senhor nosso! Estejamos atentos à advertência final e tremenda do Evangelho de hoje: “Vendo os sinais que Jesus realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois conhecia a todos… conhecia o homem por dentro”.

Senhor Jesus tem piedade de nós! Converte-nos a ti e olha o nosso coração convertido e nos dando a tua salvação! Na tua misericórdia infinita, conduze-nos às alegrias da Páscoa

Piedade, Senhor!

A Ele a glória pelos séculos dos séculos! Amém.

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