HOMILIA DA EPIFANIA DO SENHOR (Mt 2, 1-12)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Celebrando ainda o Natal do Senhor, a Igreja nos propõe hoje a celebração da manifestação do Filho de Deus a todos os povos, como anuncia a primeira leitura, do profeta Isaías, e como cantamos no refrão do Salmo responsorial: “As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor”. Esses povos são representados no Evangelho por estes três misteriosos personagens vindos do Oriente, que finalmente encontram aquele que todos desejavam ver.  

Esta manifestação do Senhor não se deu apenas lá em Belém há séculos passados, mas acontece hoje para nós. Por isso após o Evangelho nos foi anunciada a data da Páscoa e das demais solenidades do Ano litúrgico para nos lembrar que o Cristo continua a se manifestar em nosso meio através da liturgia e nos acontecimentos de nossa vida ao longo do ano.

O Mistério da Encarnação realiza o admirável encontro entre Deus e o homem, entre a criatura e o Criador. No Natal o aspecto mais evidente é este movimento de Deus que vem até nós, que se abaixa, assumindo a nossa condição humana. Nesta segunda festa do Natal, que hoje celebramos, percebemos que não só Deus veio até nós, mas os homens mesmos, inspirados pela ação divina, se colocam em movimento e vão para aquele que veio para eles.

[Na primeira leitura, o profeta Isaías contempla Jerusalém como o centro do encontro de todos os povos com o Senhor. Mas assistindo todas estas notícias de guerras e conflitos presentes nessa região do mundo, assim como, em tantas outras partes do mundo, tal encontro pode nos parecer algo impossível. Mas a Jerusalém que o profeta contempla é a “nova Jerusalém”, a Igreja, libertada por Cristo, capaz de acolher e abrigar a todos, como nos anuncia São Paulo na carta aos Efésios: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo”.]

Mesmo que não se deem conta, todos estão à procura desse encontro com o Senhor. Os Magos são o símbolo dessa busca. De longe eles vão à procura do Salvador, atravessando múltiplos desafios, longos caminhos, através de desertos, desencontros políticos, até chegar aos pés do “menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se diante dele, o adoraram”. “Neles nós encontramos o homem de todos os tempos que procura por Deus na peregrinação da própria vida, e o homem que encontra Deus, tendo-o procurado” (M. Augé, 92).

Este homem que procura precisa, como os Magos, discernir os sinais dos tempos, as diferentes maneiras de Deus se manifestar e nos convidar à fé. Os Magos contam com seus conhecimentos, interrogam os astros, os homens, os documentos, mas nada disso é suficiente. Eles precisam se deixam guiar pelo sinal de Deus, uma estrela que os conduz. No Evangelho a palavra “estrela” aparece 4 vezes, nos indicando que esta luz do alto não é um simples detalhe para embelezar o texto, mas é protagonista na condução da busca dos Magos.

Quando eles chegam à Jerusalém perguntando pelo Salvador, o rei Herodes convoca os sacerdotes e mestres da Lei e estes lhes comunicam o que diz a Escritura sobre o nascimento do Messias. É a Palavra de Deus, finalmente, que os ajuda a encontrar o lugar preciso do encontro com o Salvador. Cultura, busca, desejo de verdade servem aos Magos como orientação, mas são insuficientes. Eles precisam ouvir e aprender as Escrituras, o plano salvífico de Deus, para encontrar o menino. Finalmente, esta luz que conduz em meio a escuridão é o Evangelho.

A estrela que buscamos e que nos guia é o Evangelho. É a Palavra de Deus que ilumina os nossos passos no caminho que nos conduz ao encontro com o Salvador. É esta luz da Palavra que nos abre os olhos, a mente e o coração para acolher o menino nascido como o nosso Senhor e Salvador. Mas, sem dúvida, antes de tudo é preciso desejar este encontro.

Por isso, diante deste anúncio, devemos nos interrogar: será que desejamos mesmo encontrar o Salvador? Estamos à sua procura, como estes homens vindos de tão longe, dispostos a abri mão de suas seguranças para ir ao seu encontro? Ou estamos mais preocupados com nossa vida, com nosso comodismo, com nossas coisas pessoais e passageiras?

A festa da Epifania nos convida hoje a recomeçar o nosso caminho de busca, deixando-nos inspirar novamente pela ação do Espírito Santo que habita em nós e que nos despertar para estarmos atentos e sensíveis à manifestação de Deus em nossa vida. O Senhor continua a se manifestar a todos, hoje, só precisamos estar atentos à sua presença.

Que Maria, a estrela da manhã, nos aponte o caminho, que é seu Filho, e interceda por nós em nossa peregrinação nesta vida.

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