XXIX DOMINGO DO TC – A (Mt 22,15-21)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

A primeira frase do Evangelho nos introduz no contexto do diálogo de Jesus com os fariseus: “os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra”. São quatro perguntas e respostas que se seguem e revelam a crescente tensão entre Jesus e as autoridades judaicas, mas que servem também de reflexão para a comunidade cristã para a qual Mateus escreve seu Evangelho e para nós hoje.

A primeira controvérsia, introduzida por um elogio, disfarçada de interesse inocente, tenta levar Jesus para o terreno perigoso da economia e da política (é sempre arriscado dar a própria opinião sobre estes temas…). Querem saber se devem ou não pagar o imposto ao imperador. A resposta de Jesus é cheia de inteligência: denuncia a má intenção de seus inimigos – “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha?”; ao mesmo tempo eleva o nível da questão, propondo Ele mesmo uma questão que cada um tem de responder. De quem é a imagem gravada na moeda? De César! Portanto, pertence a César. Mas no ser humano Deus gravou a sua própria imagem ao criá-lo. Portanto, tudo o que é, faz e deseja deve ser direcionado a Deus, sua origem, seu único e verdadeiro Senhor.

Pelo visto os fariseus conhecem bem a origem da moeda, porque entraram no sistema econômico romano, aceitando suas consequências. Mas suas atitudes demonstram que eles se esqueceram do principal, ou seja, que acima de qualquer poder humano está Deus e sua vontade, e o homem é a imagem de Deus.

Em uma das parábolas da misericórdia do Evangelho de S. Lucas (Lc 15, 8-10) Jesus compara Deus a uma mãe de família, que varre a casa em busca de uma moeda perdida. Deus busca a sua moeda preciosa que somos nós, onde está gravada também uma imagem: a sua imagem. Como diz S. Agostinho, “Se César está procurando a sua imagem cunhada na moeda, Deus não haveria de procurar a sua imagem impressa no homem?”

Além disso, a resposta de Jesus mostra que Ele não veio para realizar uma libertação política, mas para libertar o homem restabelecendo sua relação com Deus, o que possibilita, consequentemente, a ordem e justiça em nossas relações com as realidades deste mundo. A resposta de Jesus afasta a politização do sagrado e, do mesmo modo, a sacralização do poder político. Infelizmente, em nossa época, assistimos a ambos desvios: uns querem sacralizar os políticos e outros querem politizar as coisas de Deus. As duas posturas nos desviam para uma idolatria.

O cristão é chamado a viver com responsabilidade e honestidade como cidadão; sobre isso insiste São Paulo em seus escritos. Enquanto está aqui é cidadão do mundo, mas sua pátria é o Reino dos Céus, por isso nunca pode se esquecer que é servo de Deus. A César deve dar o que lhe pertence, mas a Deus deve dar tudo, deve dar seu coração. Devemos ser responsáveis com este nosso mundo, que é dom de Deus, trabalhando para melhorá-lo, buscando sempre a vontade de Deus em primeiro lugar e o bem comum, a liberdade, a justiça, a reconciliação e a paz para todos.

Se a parábola do convite ao banquete de casamento, que ouvimos no último domingo, nos interpelava sobre nossa prioridade em relação ao chamado de Deus, hoje o Evangelho nos questiona sobre o que devemos dar a Deus, se de fato entregamos a Deus tudo o que é de Deus. A Ele devemos tudo, pois Ele nos criou, não à imagem de César ou do mundo, mas à sua imagem; Ele é o único Senhor e nós somos seus.

Categories: Homilias