XXVIII DOMINGO DO TC – A (Mt 22,1-14)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Hoje temos a terceira parábola que Jesus pronuncia no templo aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, que contestaram a sua autoridade, permanecendo fechados à sua presença entre eles. Somente para recordar, a primeira parábola é a dos dois filhos que o pai envia para trabalhar na vinha, a segunda, que ouvimos no domingo passado, é a dos vinhateiros assassinos, que rejeitam e matam aqueles que o dono da vinha lhes enviou para receber os frutos do trabalho, e a última, que acabamos de ouvir, é a dos convidados para o banquete nupcial.

Entre a segunda e a terceira parábola percebemos a semelhança entre aqueles vinhateiros e os convidados da parábola de hoje: além da indiferença contumaz, sem uma justificativa razoável, eles agem com violência contra os mensageiros que lhes são enviados. Esta violência é chocante, pois é gratuita, enraizada na cobiça e soberba. Mas o que deveria chamar a nossa atenção em primeiro lugar é a atitude de perseverança no bem manifestada tanto por aquele dono da vinha, que não desiste em enviar seus empregados e até mesmos o próprio filho aos vinhateiros, como também deste rei, que insiste para que os convidados aceitem o convite para a festa de casamento de seu filho.

Com esta parábola Jesus pretende sim mostrar o fechamento do coração daqueles que o escutam, que receberam muitas vezes e de diversos modos a mensagem de salvação, mas Ele quer, sobretudo, revelar a paciência amorosa do Pai, que não desiste de nos procurar, de nos esperar, de buscar novas alternativas para que seu convite nos alcance, para que tomemos parte na alegria de seu Reino.

Se na linguagem bíblica a vinha representa Israel, o banquete de casamento ilustra o reino messiânico. O banquete é símbolo de alegria, de amizade, de comunhão; na perspectiva religiosa representa, sobretudo, a comunhão com Deus. É isso o que a parábola de hoje nos propõe.

Os convidados, porém, fazem pouco caso do convite. Tudo parece ser mais importante e prioritário: “um foi para o seu campo, outro para os seus negócios, outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram”. Quando ouvimos o convite do Senhor, qual é a nossa prioridade? São Bento nos exorta a “nada antepor ao Amor de Cristo”, mas será que de fato permitimos que Deus seja a prioridade de nossa vida, de nossas escolhas? São perguntas que devemos, absolutamente, nos fazer hoje, para poder compreender bem esta parábola e não nos colocarmos na posição de juízes dos outros, achando que somos os bons, prontos a examinar a vida e o comportamento dos outros, mas cegos sobre si mesmos.

Assim, o convite é endereçado a outros, aos mais improváveis, àqueles que nós mesmos ignoramos e julgamos indignos de estar na presença de Deus. Mas são eles que aceitam o convite e entram na sala do casamento. Talvez sejamos nós estes convidados, saídos de situações marginais, de uma vida de pecado e negação de Deus… é a graça do Evangelho que nos resgatou! Mas precisamos sempre nos lembrar de onde saímos para que não nos convertamos naqueles que se acostumam com o chamado e passam até mesmo a ignorá-lo, nos tornando como os primeiros convidados.

O que a parábola de hoje anuncia sobre o Reino dos Céus a Eucaristia já antecipa para nós. A Eucaristia é a realização deste banquete nupcial: Cristo é o esposo, e nós, a Igreja, somos a noiva. Nós somos esses que foram encontrados pelos caminhos da vida, nas encruzilhadas do mundo, e fomos introduzidos na casa do Rei. Fomos revestidos das vestes nupciais, as vestes do batismo, para participar do banquete. Na parábola o Rei prepara bois e animais cevados para serem servidos, mas aqui, na Eucaristia, é o próprio Cristo, o Cordeiro pascal, que nos é oferecido em alimento. Os que não aceitam o convite e preferem ficar de fora são chamados de “indignos”, mas os que aceitam o convite são chamados de “felizes convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro”, como ouviremos logo a seguir, antes da comunhão.

Que ouvindo a sua Palavra os nossos ouvidos e o nosso coração se abram ao convite paciente e amoroso de nosso Senhor, agradecidos por tão grande dádiva, nós que somos os pecadores das encruzilhadas. E que nós possamos ter as nossas vestes sempre preparadas através de nossa busca sincera de conversão, de santidade e de comunhão com Deus. Amém.

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