XXV Domingo do Tempo Comum A (Mt 20,1-16a)

Dom Agostinho Barcelos Fagudes, OSB

Caros irmãos no Senhor,

o tema central da liturgia de hoje é o da gratuidade, da bondade de Deus. E queremos refletir sobre ele sob a perspectiva da busca: a nossa procura da face do Senhor e também aquela que Ele faz, vindo ao nosso encontro.

No Canto de Entrada afirmamos que se clamarmos por Ele, seremos ouvidos e Ele se mostrará a nós como Aquele que está sempre presente. E assim será para sempre. Por isso na primeira leitura, o profeta Isaías nos exorta a voltarmos o nosso coração para o Senhor, pois Ele se faz próximo de nós e Sua misericórdia é abundante. Seu modo de pensar, o seu agir, o caminho a que nos convida trilhar é muito mais elevado, mais nobre, mais sublime e, principalmente, é uma estrada de conversão, de abandono de nossas próprias concepções e vontades para abraçar novos valores e um novo modo de ser – é um chamado para uma estrada de liberdade.

Assim, a primeira leitura deste domingo nos oferece uma chave para compreendermos o Evangelho. O “Reino dos céus” é semelhante a um proprietário de uma vinha que toma atitudes que nos surpreendem, nos causam espanto, rompem com o nosso modo costumeiro de julgar e de agir – os pensamentos de Deus estão muito acima dos nossos. Ao pagar o salário aos trabalhadores da vinha, começando pelos últimos que foram contratados (que trabalharam apenas 1 hora), dá a todos o mesmo valor, estabelecendo uma igualdade que nos incomoda. E esse é o momento da conversão ao Senhor: quando nossos valores são colocados à luz do Evangelho, e o nosso coração se dobra em reconhecimento de nossos pecados. Realmente nos é difícil compreender esta bondade que muito ultrapassa nosso modo de pensar. O Pai revelado por Jesus Cristo não age à minha maneira e de acordo com a minha medida.

Sim, no “Reino dos céus” somos todos iguais, somos todos irmãos. “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”, afirmava Paulo aos cristãos da província da Galácia. Deus é a plenitude de bondade e de amor, de graça e misericórdia. Daí a exortação de Paulo na carta aos Filipenses: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.

Conta-nos a tradição monástica que havia um abade – um monge muito santo e sábio – no Egito que procurava viver em grande atenção a Deus na oração. Assim, sempre que algum monge mais novo o procurava para receber orientação espiritual, ele o escutava e atendia com bastante brevidade para evitar a distração. Um dia lhe procurou um monge que vivia de modo relapso, sem muito fervor… E então aquele abade o recebeu e lhe dedicou toda atenção possível. Ora, quando o monge pouco fervoroso foi-se embora, um outro lhe perguntou o porquê de tanta deferência para com alguém que não merecia, já que todos sabiam que ele era desleixado em sua vida. E aquele abade respondeu que aquele que se foi julgaria que a pouca atenção a ele dada era devido à sua vida desleixada, e não saberia que aquele era o modo costumeiro de agir do abade. Aquele monge negligente teve uma acolhida imerecida, é verdade, mas se foi embora em paz. A gratuidade, a bondade, o amor promovem a salvação do outro. Assim Deus agiu conosco ao enviar-nos Seu Filho.

Pensemos novamente na figura única deste proprietário da vinha. Importa salientar que não era comum o dono de uma videira sair para contratar trabalhadores para o serviço de plantio ou de colheita. Isso era papel de um administrador. Ora, esta parábola também nos relembra, então, o zelo que o próprio Deus Amor tem por nós. E seu interesse por nós é verdadeiro e insistente, e assim Ele sai para contratar desde o início do dia até às 17 horas – 5 vezes. Ele mesmo vai ao encontro dos trabalhadores – pois o Senhor nos busca, vem até nós e nos diz hoje: “Ide também vós para a minha vinha! E eu lhe pagarei o que é justo”.

O Senhor está lhe convidado a servi-lo, a trabalhar pelo “Reino dos céus”, a dedicar uma parte de seu tempo a Ele – na oração, na leitura atenta da Sagrada Escritura, na celebração litúrgica – e a seus irmãos – num ministério na comunidade, numa visita a um doente, numa ajuda a um vizinho, num gesto de perdão e reconciliação… Será que estamos ouvindo a sua voz? Ou a nossa vida está um pouco tumultuada e não temos conseguido estar atentos ao Seu apelo? Será que não estamos dando muito espaço a palavras vazias e dando pouca atenção ao que é o mais essencial? Será que temos acolhido aquela “Palavra de Deus [que] é viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes?” (Hb 4,12) Temos sido dóceis aquilo que o Espírito Santo, que habita no mais profundo de nosso ser, suscita em nós? Quando nos convida a romper com o egoísmo, a mentira, a superficialidade, a banalidade, a maldade? Quando nos mostra que precisamos voltar o nosso coração para Deus, que precisamos voltar a uma comunhão mais profunda com o Deus e com os irmãos? Muitas vezes, as pessoas estão sofrendo ao nosso lado ou bem perto de nós, e não temos tempo para fazer o bem, para gerar vida e paz, para acolher… porque estamos muito atarefados.

A verdade é que estamos continuamente voltados para a nossa vinha. Não, meus caríssimos irmãos… hoje Ele diz: “Ide […] para a minha vinha”. Coloquemos o Senhor no centro de nossa história, de nossa existência, de nosso coração, confiemos que Ele está conosco. E que possamos, juntamente com Paulo, verdadeiramente proclamar: “Para mim viver é Cristo e o morrer é lucro”.

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