ENTRADA NO NOVICIADO DE IR. BERNARDO, OSB

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR Cl 3,1-4

20/05/2023

D. Paulo DOMICIANO, OSB

A oração da liturgia de hoje sintetiza o sentido profundo do mistério que celebramos com a Ascensão do Senhor e colocando nos lábios da Igreja esta súplica: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho, já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”.

A Ascensão nos revela a nossa vocação mais profunda: sermos de Deus. Como batizados fazemos parte do Corpo de Cristo e estamos unidos a Ele. Se Ele vai para o Pai, como Cabeça deste Corpo, o destino dos membros todos só pode ser a união com o Pai também. Por isso a Ascensão nos lembra que não somos desse mundo, que fomos criados para as coisas do alto. Como lembra São Paulo aos Colossenses: “se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Col 3, 1).

Na leitura da carta aos Efésios, que ouviremos nas Vigílias esta noite, sobre a Ascensão São Paulo declara: “Ele subiu”! Que significa isso, senão que ele desceu também às profundezas da terra. Aquele que desceu é o mesmo que subiu mais alto do que todos os céus, a fim de encher o universo” (Ef 4, 9-10). Cristo sobe para o Pai porque desceu pelo caminho da obediência e da humildade; ele se encarnou, sofreu e morreu para nos arrancar do poder da morte, e por isso foi exaltado pelo Pai, ressuscitando dos mortos e sendo elevado aos céus para se assentar à sua direita. Nós, que somos membros de seu Corpo, somos convidados a trilhar este mesmo caminho quando ele nos diz “Segue-me”.

Ir. Luan, tendo ouvido este apelo do Senhor, o monge se coloca neste caminho de retorno para Deus, que o Evangelho nos propõe e que São Bento nos apresenta através da Santa Regra. Você ouviu este convite do Senhor e hoje se dispõe a segui-lo pelo caminho estreito. Para São Bento não há outro caminho senão este de descida, de humildade, pois é o caminho aberto por Cristo para subir para Deus. Se queremos subir, precisamos começar a descer, como nos exorta o Senhor: “quem se eleva, será humilhado
e quem se humilha, será elevado” (Lc 14, 11).

O Salmo 46, tipicamente presente na liturgia da Ascensão, também nos ajuda a penetrar mais profundamente neste mistério de Cristo. A Tradição lê neste salmo a proclamação da ascensão do Senhor – “Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta” – e a sua entronização à direita do Pai – “Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso”. Mas é interessante notar que na liturgia romana este salmo é cantado também como salmo processional no Domingo de Ramos, para celebrar a entrada de Jesus em Jerusalém. Isso não é uma coincidência banal, pois a inteligência litúrgica propõe através do salmo a estreita ligação entre a Paixão de Cristo e a sua gloriosa Ressurreição e Ascensão ao céu, ao qual Ele chega atravessando “a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Deste modo, podemos perceber mais uma vez que somente através do caminho trilhado pelo Senhor – caminho da humildade, da descida, da morte de si mesmo – é que é possível chegarmos ao nosso destino, a vida do alto.

Como discípulo de São Bento, São Bernardo também escreveu um tratado sobre “Os graus da humildade e da soberba”, onde pretende nos mostrar onde nos leva este caminho a partir das palavras do Senhor: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, que “propõe-nos o labor do caminho, e o prêmio do labor”. Em um de seus sermões sobre a Ascensão, falando especificamente sobre esta exigência do caminho de humildade para o monge São Bernardo retoma este tema dizendo:

“Que nós, que somos o teu povo e as ovelhas do teu rebanho, possamos seguir-te, caminhar somente para ti, somente em tua direção, que és o caminho, a verdade e a vida (Jo 16, 6); o caminho pelo exemplo, a verdade nas promessas, a vida na recompensa. Pois tu, Senhor, tens as palavras da vida eterna, e nós sabemos e cremos que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Jo 6, 79), e que tu és Deus e bendito sobre todas as coisas, pelos séculos dos séculos. Amém”.

Querido Ir. Luan, que você tenha sempre a disposição e a docilidade necessárias para seguir o Cristo, Caminho, Verdade e Vida, através da humildade e da obediência, em busca das coisas do alto, inspirado pela sabedoria de nosso Pai São Bento, que nos indica a escada da humildade para chegarmos à “exaltação celeste”. Que também o exemplo de São Bernardo Abade auxilie em sua busca; por isso, recebe o nome de Bernardo, para que este grande discípulo de São Bento seja seu intercessor celeste e padroeiro na vida monástica, ele que também assumiu este caminho de configuração ao Cristo humilde e obediente em sua vida e o propôs aos seus discípulos com coragem e perseverança.

Como sabemos São Bernardo é um grande defensor e promotor da devoção mariana, assim, recebe como lema para a sua vida monástica a resposta que ela deu ao anjo: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

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