HOMILIA DO II DOMINGO DO ADVENTO – A (Mt 3, 1-12) / 2022
P. Paulo DOMICIANO, OSB
O primeiro domingo do Advento nos introduziu na temática fundamental deste
tempo de preparação para a vinda de Cristo com o convite à vigilância. Contudo,
tal atitude não é passiva, pois nos convoca para uma disposição à conversão, que
nos prepara para receber o Senhor que chega em nossa vida. Ele chega como um
ladrão, ou seja, de modo imprevisto, mas se estivermos vigilantes, desejosos de sua
chegada, atentos aos primeiros sinais do Reino, o receberemos como um amigo
esperado.
A necessidade da conversão, como modo de prepararmos a chegada do Senhor em
nossa vida e no mundo, nos é apresentada de modo especial neste segundo
domingo do Advento através da figura emblemática de João Batista, que proclama:
“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”.
João Batista é a ligação entre os profetas do Antigo Testamento e Jesus. Ele faz o
último apelo à conversão antes da chegada do Reino dos Céus. As imagens
utilizadas por ele são duras, provocam temor, mas são típicas da linguagem dos
profetas que anunciaram o “Dia do Senhor”. Seu comportamento e modo de vida
austeros também se assemelham ao daqueles que anunciavam não só com as
palavras, mas com a própria vida, a necessidade de uma mudança radical de vida,
de modo particular, o profeta Elias.
Contudo, João não deseja que a atenção de toda esta multidão que acorre a ele,
inclusive autoridades religiosas (fariseus e saduceus), se concentre sobre a sua
pessoa, como se fosse um juiz diante de quem todos se apresentam para confessar
suas faltas. O verdadeiro juiz está por chegar, como declara o próprio João: Ele
“vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas
sandálias”. Aquele que os antigos profetas anunciaram agora é apontado por João
Batista; já não está longe, mas muito perto, entre os seus discípulos, e em breve
se manifestará. Este verdadeiro juiz não batizará com água, mas com o fogo
escatológico do Espírito Santo. Assim, não haverá mais um rito a ser realizado,
mas se dará um evento último e definitivo.
A imagem agrícola utilizada para descrever este evento último é muito sugestiva: a
limpeza dos grãos de trigo após a colheita para serem guardados no celeiro. Na
cultura agrícola, este dia era marcado por trabalho duro, mas também era um dia
de festa, de ação de graças. E é assim que devemos pensar em nosso encontro com
o Senhor, como um grande dia de festa e alegria ao final da dura fadiga do trabalho
desta vida.
A palha seca só serve para ser lançada fora e queimada, enquanto o grão precioso
é bem guardado no celeiro para alimentar durante todo o ano. Assim, Ele virá e
soprará a palha seca de nossa vida, purificará nosso coração com o fogo de seu
Espírito, e somente os grãos que produzimos restarão e serão levados para a
morada do Pai para serem transformados no pão da ação de graças.
Esta imagem nos interpela hoje e pode nos ajudar a fazer um discernimento
importante em nosso caminho de Advento. Com o que estamos preocupados nessa
vida: em produzir frutos, grãos fecundos, ou palha seca? Na oração inicial da
liturgia de hoje nós pedimos: “que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr
ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da
plenitude de sua vida”. Temos de reconhecer que muitas de nossas “atividades
terrenas” não são mais do que palha seca, árvores estéreis, sem nenhuma serventia
e muitas vezes podem até mesmo nos impedir de produzir os frutos que alimentam
e que nos levarão à plenitude de vida. Por isso o Evangelho nos convida a tomarmos
um caminho diferente, que nos conduza a uma vida realmente fecunda: o caminho
de Cristo.
“Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai
suas veredas!”
Por um lado, somos convocados a preparar o caminho do Senhor, mas só podemos
fazer isso porque em primeiro lugar o próprio Senhor decidiu vir até nós, abrindo
Ele mesmo o caminho para nos encontrar, Ele que diz “Eu sou o Caminho”. Ele
vem até nós e nós, com o nosso desejo, abrimos passagem para que Ele chegue em
nossa vida.
O nosso caminho nesta vida tem uma direção, o próprio Senhor Jesus. Este
caminho está aberto, mas precisamos remover os obstáculos que ao longo da vida
permitimos que nele se instalem e nos impedem de correr, como diz nosso Pai
S.Bento (cf Pról. 13.49). Estes obstáculos estão dentro de nós e somos exortados
hoje pela voz do profeta a preparar o caminho do Senhor: é o grande trabalho da
nossa conversão!
Irmão, o Senhor chegará no fim dos tempos ou no dia de nossa morte, mas Ele
chega sempre em nossa vida. E por isso devemos nos preparar constantemente
para a sua vinda em nossas vidas e no mundo, acolhendo-o constantemente em
sua perpétua novidade. Este caminho que Cristo abriu está diante de cada um de
nós e ao longo da história da Igreja, cada geração tem de descobri-lo e percorrê-lo.
Assim, no início de cada ano litúrgico, que se inicia com este Tempo de esperança
e conversão, este momento de discernimento nos é proposto novamente. Hoje é o
dia de retomarmos o nosso caminho com o Senhor.
Assim, o Tempo do Advento é mais do que um período de algumas semanas de
preparação para o Natal; o Advento, fundamentado sobre a dinâmica da vigilância
e da conversão, é um aspecto essencial e permanente da nossa vida cristã. Aliás,
de toda a vida humana, na medida em que todas as pessoas aspiram por um
mundo melhor.
Que Maria, a Imaculada, que nos preparamos para celebrar no próximo dia 8, a
mãe do Advento, interceda por nós e caminhe conosco, nos ajudando a preparar
os caminhos do Senhor e acolhê-lo na alegria renovada de sua presença