FESTA DE SÃO GREGÓRIO MAGNO (Lc 22, 24-30)
Dom Paulo DOMICIANO, OSB
São Gregório Magno, nasceu por volta de 540 em uma rica família de Roma, que
colaborou muito com a Sé Apostólica, de onde surgiram dois papas: Félix III (483-
492), trisavô de Gregório, e Agapito (535-536). Seguindo a carreira de seu pai,
Gordiano, Gregório se tornou prefeito de Roma, num período muito complicado
devido às invasões dos lombardos.
Apesar de realizar tão bem seu serviço, esta vida não o satisfazia e, deixando o
cargo civil, abraçou a vida monástica, transformando sua casa familiar no mosteiro
de Santo André, no monte Celio. Deste período de vida monástica, dedicado,
sobretudo à meditação da Palavra de Deus, ao silêncio e ao recolhimento, lhe
permanecerá uma profunda saudade, que se faz notar em seus escritos e suas
homilias.
Foi enviado pelo papa Pelágio em uma missão em Constantinopla e alguns anos
mais tarde, de volta à Roma, foi nomeado secretário do papa. Com a morte deste,
vítima da peste, no ano 590, o clero, o povo e o senado foram unânimes em escolher
como seu sucessor na Sé de Pedro precisamente a ele, Gregório. Ele procurou opor
resistência, tentando até a fuga, mas sem êxito: no final teve que ceder.
Em tempos muito difíceis e atribulados, o pontificado de São Gregório foi
profundamente marcado por esta realidade que o Evangelho de hoje nos descreve:
“o que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa seja como o
servo” (Lc 22, 26). Ele soube se colocar a serviço de todos, e dentre suas muitas
realizações, podemos destacar a reforma do clero e o impulso considerável à vida
monástica em todo o Ocidente, incentivando a adoção da Regra de São Bento;
empenhou-se ainda na evangelização da Inglaterra, enviando para lá Santo
Agostinho de Cantuária e mais quarenta monges; combateu heresias na Europa,
na África e no Oriente; se opôs ao patriarca de Constantinopla que, apoiado pelo
Imperador bizantino, contestava o primado de Roma. Além disso, reformou a
liturgia romana, estabelecendo o estilo de música sacra, que hoje chamamos de
“canto gregoriano”.
Em seus quatorze anos de pontificado não descuidou de seus estudos teológicos e
de seu aprofundamento nas Sagradas Escrituras. São Gregório era realmente
apaixonado pela lectio divina e, sem dúvida, era aí que encontrava forças para sua
missão e alimento para saciar o rebanho que lhe foi confiado. Dentre seus escritos,
como beneditinos, sem dúvida, o que mais desperta nosso apresso e
reconhecimento são os Diálogos, que dedica seu livro II à vida de Nosso Pai São
Bento; único testemunho antigo sobre a vida do santo monge, cuja beleza espiritual
aparece no texto de modo totalmente evidente.
Neste seu diálogo com seu amigo e diácono Pedro, que estava “convicto de que os
costumes já tivessem sido corrompidos a tal ponto que já não permitissem o
nascimento de santos como nas épocas passadas, Gregório demonstra o contrário:
a santidade é sempre possível, mesmo nos tempos difíceis. E prova-o, narrando a
vida de pessoas contemporâneas ou mortas havia pouco, que bem podiam ser
qualificadas santas, embora não canonizadas. A narração é acompanhada por
reflexões teológicas e místicas que fazem do livro um singular texto hagiográfico,
capaz de fascinar inteiras gerações de leitores” (Bento XVI, audiência geral de
04/07/2008).
Peçamos ao Senhor que inflame nosso coração com esta saudade que ardia no
coração de São Gregório; a saudade das coisas de Deus, de estar em sua presença
e ouvir sua voz, particularmente na lectio divina. Peçamos também que esta
esperança de que é a santidade é possível ainda hoje e que inspirou São Gregório
a escrever os Diálogos, possa animar nossa caminhada como cristãos e como filhos
de São Bento, certos de que nossa busca pela conversão chegará a bom termo