VI DOMINGO DA PÁSCOA – C (Jo 14,23-29)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Seguindo a leitura do cap. 21 do Apocalipse de São João, que iniciamos no último domingo, retomamos a contemplação da imagem da Nova Jerusalém, a cidade-esposa, que desce de junto de Deus e é habitada por Ele. Uma voz anunciava: “Esta é a morada de Deus entre os homens” (Ap 21 3).
No trecho que acabamos de ouvir se anuncia que nesta cidade não há um templo, como na primeira Jerusalém, “pois o Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro”. Ele também é sua luz, ou seja, sua força, sua vida. A imagem da Jerusalém do alto é a imagem da Igreja gloriosa. E aqui há afirmações importantes sobre a realidade da Igreja:
– ela desce do alto, ou seja, é criação de Deus
– é o lugar que Deus escolheu para morar entre os homens, fazendo deles o seu povo
– a Igreja não é somente uma estrutura física, mas uma realidade viva, é um corpo, formado pela reunião desse povo novo
– ela é ainda alimentada pela força de Deus, que é seu sol.
Mas poderíamos nos perguntar: o que esta bela imagem da cidade-esposa, da nova Jerusalém, imagem da Igreja criada por Deus, tem a ver com esta Igreja da qual fazemos parte? Será que é a mesma? Parece impossível… ainda mais nesses nossos dias onde nos deparamos com uma imagem tão negativa da Igreja devido a tantos escândalos, pecados cometidos por seus membros e diversos contratestemunhos. De fato, isso não se parece em nada com a beleza e o brilho desta Igreja que o Apocalipse nos apresenta.
A Igreja, como disse, é um corpo, formado por seus diversos membros, que somos nós. Cada membro, por sua vez, é responsável por reproduzir a beleza da Igreja. Não se pode negar que existam membros enfermos, marcados pelo pecado, e sua enfermidade toca todo o corpo, pois se um membro está doente, todo o corpo padece. Mas não podemos nos esquecer do contrário: se um membro está saudável, todo o corpo se beneficia de sua saúde.
Se a Igreja ainda não reflete totalmente a beleza da esposa desejada por Cristo, se ela ainda não está preparada, isso é responsabilidade nossa, de cada um de seus membros, não apenas do papa, dos bispos e dos padres. Cada batizado tem a missão de tornar a Igreja mais bela. Não adianta ficarmos apedrejando os membros que erraram; é preciso olhar para si mesmo e buscar a conversão. Assim, todo o corpo será mais santo, mais saudável.
No último domingo ouvimos o mandamento de Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Este mandamento é a lei da cidade nova. Hoje o Senhor nos anuncia: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Deus habita esta cidade nova, Ele habita a Igreja, mas Ele quer habitar cada coração. Ele quer fazer de cada um de nós uma nova Jerusalém, um templo santo. E é isso o que aconteceu em nosso batismo: Deus fez de nós sua morada.
Mesmo que a Igreja não se pareça ainda com a imagem do Apocalipse, a Igreja que cada um é, por ser a morada de Deus, já pode se parecer com ela. Quanto mais buscarmos ser uma joia preciosa, mais bela será a noiva que o Cordeiro aguarda.
Não podemos desanimar ou ficar chocados diante das debilidades da Igreja. O Senhor está conosco! Este é o segundo anúncio do Evangelho de hoje: o Senhor nos envia o seu Espírito, que nos ensina tudo e nos capacita para esta grande tarefa de transformação do nosso coração, da Igreja e do mundo.
Meus irmãos, é a certeza desta presença de Deus habitando e agindo em nós – Pai, Filho e Espírito Santo – que nos garante a Paz. E este é o terceiro anúncio que Jesus nos faz hoje: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. Ele nos dá a sua paz e não a do mundo, que é tão frágil, tão condicionada e passageira. A Paz é o fruto da presença de Deus em nós. Se não encontramos essa paz no mundo, compete a nós cultivá-la no íntimo de nosso coração, em nossas relações, em nosso ambiente de trabalho, para que ela seja visível e concreta em nosso meio.
Finalmente, o Senhor nos faz ainda um quarto anúncio: “Vou, mas voltarei a vós”, e acrescenta que este deve ser o motivo de nossa alegria. No próximo domingo celebraremos a solenidade da Ascensão do Senhor. Isto deve ser para nós motivo de alegria, porque Ele vai para junto do Pai para nos enviar o Espírito Santo, que realizará esta obra de renovação em nossos corações e sobre toda a face da terra. A Ascensão do Senhor é a grande epiclese sobre o mundo, por isso, meus irmãos, vamos abrir nosso coração para que o Espírito nos renove, faça de nós morada de Deus, joias brilhantes que embelezam e iluminam a Igreja, esposa de Cristo. Assim, o nosso testemunho diante do mundo será um testemunho de beleza e de santidade.
Que a Mãe do Ressuscitado, que veneramos particularmente neste tempo solene, interceda por nós. Ela, a cheia de graça, nos alcance a graça de um coração aberto e desejoso do Espírito Santo que sempre a cobriu e conduziu. Amém. Aleluia.