IV DOMINGO DA PÁSCOA – C (Jo 10, 27-30)

DOMINGO O BOM PASTOR

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Neste domingo a liturgia nos apresenta uma das figuras mais emblemáticas do cristianismo primitivo para se referir a Jesus Cristo: a figura do Bom Pastor.

A figura do pastor era muito familiar ao povo hebreu, que em sua origem era nômade e conduzia seus rebanhos pelos campos. Esta figura serviu para comparar a relação pessoal de Deus com seu povo. Seus chefes deveriam ser servos do único pastor que é o Senhor, mas com frequência se desviavam desse propósito e abusavam do rebanho de Deus a eles confiado. Finalmente, Jesus aparece como o pastor segundo o coração de Deus, aquele que foi anunciado pelos profetas. Ele conhece intimamente o Pai e transmite esse conhecimento ao seu rebanho.

O trecho do Evangelho que ouvimos é a conclusão do discurso de Jesus onde ele se apresenta como o “Bom pastor”. Ao mesmo tempo, Ele revela que somos as ovelhas que o Pai lhe confiou, revela que somos de Deus e nada pode nos arrancar de suas mãos.

As ovelhas desse Bom Pastor têm como característica principal a capacidade de ouvir a voz do Pastor e segui-lo. Assim, podemos dizer que o rebanho, que é a imagem da Igreja, é a comunidade de fé convocada e reunida pela Palavra, pela voz de Jesus; essa Palavra que é ouvida, celebrada, meditada, ruminada, como o alimento das ovelhas. Ou seja, a Palavra ouvida é vivida no mais profundo de cada um. Somente aquele que ouve essa Palavra-voz toma parte no rebanho do Bom Pastor e o segue. Do contrário, ouvem e seguem outras vozes, vozes de pastores estranhos, de mercenários, como adverte Jesus (cf. Jo 10,5).

Diferente dos falsos pastores, o Bom Pastor está disposto a dar a própria vida por suas ovelhas. Por sua morte, Jesus oferece ao Pai a sua vida e o Pai lhe restitui a vida para que Ele a comunique a todos nós, suas ovelhas. Esse Pastor fez-se cordeiro, como ouvimos no Apocalipse; um cordeiro de sacrifício, um cordeiro imolado, para ser o doador da vida. Assim, além da imagem do cordeiro-servo, descrita na profecia de Isaías, Jesus se identifica com o cordeiro-pastor do Apocalipse, que guia continuamente o seu povo em sua caminhada de libertação até a pátria celeste, onde todos estaremos diante de seu trono cantando o Aleluia sem fim. “Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida”.

Junto como as pastagens, as águas vivas são o símbolo do alimento oferecido pelo Cristo na Eucaristia, como ouvimos durante esta semana no discurso do “Pão da vida”, onde declara “quem come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna” (Jo 6,54).

Alimentados por Cristo e de Cristo, somos transformados em Cristo. Alimentados pelo Bom Pastor, somos configurados a Ele, num só coração e numa só carne. Deste modo, unidos ao Bom Pastor, somos chamados a assumir a sua missão em relação a nossos irmãos. Como Ele dá a vida por suas ovelhas, nós também somos responsáveis por transmitir a vida que recebemos Dele aos que nos cercam. Cada um de nós, de algum modo, é chamado a ser pastor, exercendo o ministério do cuidado, da doação, da responsabilidade em relação ao outro (no mosteiro, na Igreja, em casa, no trabalho…).

É essa configuração com o Bom Pastor que buscamos como ovelhas de Cristo. Não podemos ser somente ovelhas que são eternamente cuidadas e alimentadas. Cristo Pastor se fez ovelha levada ao matadouro para que nós, ovelhas perdidas, fossemos transformados em pastores, à sua imagem.

É isso que pedimos ao Pai na oração de hoje: “conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de suas fraquezas, a fortaleza do Pastor”.

Vamos permitir que o Bom Pastor nos conduza e alimente para que recebendo a sua vida, a vida abundante, possamos crescer, nos tornando adultos na fé como filhos de Deus.

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