HOMILIA DO DOMINGO DE PÁSCOA (Jo 20,1-9)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

“No primeiro dia da semana”; é o primeiro dia da nova criação. O sol se eleva sobre o mais belo dia do ano cristão, o Domingo dos Domingos, a Solenidade das Solenidades. “Este é o dia que o Senhor fez para nós:/ alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117)

A aurora da manhã de Páscoa é a imagem do Cristo vencedor, saindo do túmulo e fazendo nascer a luz da nova e eterna criação. É o anúncio também da última manhã, do grande Dia do Senhor, aquele da Parusia e da luz que não declina. 

No relato da manhã de Páscoa no Evangelho de João é Maria Madalena que chega primeiro ao túmulo e constata que a pedra foi removida. Então ela corre para encontrar Pedro e João, sem entender nada do que viu.

A seguir, Pedro e o outro discípulo correm ao túmulo; o mais jovem corre mais rápido, mas o primeiro a chegar não é o primeiro a entrar no túmulo.

Eu sou particularmente tocado por dois aspectos deste Evangelho:

  1. Estes dois primeiros atos da cena são marcados pela rapidez dos movimentos. Mas qual é o sentido de todas essas corridas em todas as direções? Isso nos indica que não há nada mais urgente que a Páscoa; é impossível não correr… Disso, nós monges somos muito conscientes: os dias do Triduo são especialmente corridos para todos nós, com muitas urgências, que vão desde a limpeza do mosteiro, a preparação da cozinha, os ensaios para a liturgia, até encontrar um momento para a oração silenciosa e a meditação dos mistérios que celebramos.

Na Santa Regra, nosso pai São Bento também nos convida muitas vezes a correr, inspirado pelo salmo que diz: “De vossos mandamentos corro a estrada, porque vós me dilatais o coração” (Sl 118,32). É, portanto, o amor, o coração dilatado, que nos impulsiona a correr.

  • Um outro elemento que podemos sublinhar é o verbo “retirar”, que aparece duas vezes: Maria viu “que a pedra tinha sido retirada do túmulo”; e ela disse “Retiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.

Isso nos sugere que nesta manhã de Páscoa todos os obstáculos foram removidos diante da vida e da luz triunfante.

Maria viu o túmulo aberto, mas isso não foi suficiente para ela acreditar; a visão dos panos e do sudário também não foram suficientes para Pedro. Mas o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro, “viu e acreditou”. Recordemos que Lázaro tinha saído do túmulo envolto no seu sudário, preso por ligaduras: ele estava vivo, mas ainda vestido com os panos da morte, que mais tarde encontraria novamente. É totalmente diferente para Jesus. O discípulo compreende isto à primeira vista. Vendo os panos da morte, ele acredita. Ele crê não na reanimação do corpo de Jesus, como a de Lázaro, mas na sua ressurreição de entre os mortos: o seu Mestre passou para uma vida totalmente diferente da primeira. “Ele viu e acreditou…” este é o ponto culminante do relato. E podemos acrescentar que este é o cume Do nosso percurso como discípulos de Cristo: ver os sinais visíveis que Ele nos deixa e acreditar.

Mas para chegar a “ver e acreditar” é preciso que o Senhor retire os obstáculos que bloqueiam nossa maneira de apreender a realidade. É preciso permitir que ele retire a pedra que nos mantém fechados em nossas convicções humanas, em nossas trevas de morte e nos deixarmos introduzir nesta nova realidade que nos faz livres. Mas quais são os obstáculos que nos separam da vida? Qual a pedra que precisa ser removida de nossas vidas para que tenhamos vida a este respeito nova? Em uma de suas homilias de Páscoa, o papa Francisco menciona duas pedra que nos fecham em um verdadeiro sepulcro: a pedra da falta de confiança, que nos impede de ter um olhar de esperança sobre o mundo e as pessoas a nossa volta e sobre nossa própria história; e há ainda uma pedra que fecha o nosso coração: a pedra do pecado. “O pecado é procurar a vida entre os mortos, o sentido da vida nas coisas que passam. Porque buscais o Vivente entre os mortos? Porque não te decides a deixar aquele pecado que, como pedra à entrada do coração, impede à luz divina de entrar? Porque, aos lampejos cintilantes do dinheiro, da carreira, do orgulho e do prazer, não antepões Jesus, a luz verdadeira (cf. Jo 1, 9)? Porque não dizes às vaidades mundanas que não é para elas que vives, mas para o Senhor da vida?” (homilia de 20/04/2019)

Assim, nosso coração se dilatará no amor, como nos exorta nosso Pai S.Bento, e seremos encorajados a correr para testemunhar esta Boa Nova aos outros.

Cada vez que nós assumimos o risco de nos deixar libertar de nossos túmulos pela força da Ressurreição e pela força do Espírito Santo, como pedimos no início desta Eucaristia pascal, nos tornamos homens novos. Porque ressuscitamos com Cristo na Luz da Vida.

Demos graças ao Senhor Ressuscitado, que fez raiar este novo dia para nós e nos fez entrar desde agora na alegria de sua glória através da liturgia.

O Cristo ressuscitou. Sim, verdadeiramente Ele ressuscitou. Aleluia. Aleluia.

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