Isaías 52,13–53,12; Sl 30; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1–19,4
15 de abril de 2022
A narrativa da Paixão segundo São João, que acabamos de ouvir, tem uma característica diferente dos outros três Evangelhos. Neste relato, João nos apresenta uma imagem de Jesus conforme ao que ele elaborou ao longo de seu Evangelho. É a imagem de um Jesus que é a revelação do Pai e que é também, em sua pessoa, a plena manifestação do amor.
Durante toda a sua vida ele fez a vontade do Pai. E por isso, paradoxalmente, sua morte na cruz é uma vitória. Suas últimas palavras são o ponto final não só da sua Paixão, do seu sofrimento, mas de toda a sua vida: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30), disse ele. A vontade do Pai de conferir a salvação à humanidade é plenamente realizada n’Ele. Eis a sua vitória: cumprir a vontade do Pai, realizar a salvação do gênero humano.
As últimas palavras deste relato já evocam a ressurreição. O corpo de Jesus é colocado em um túmulo novo (cf. Jo 19, 41). E sabemos que, ao terceiro dia, quem procurar este corpo encontrará um túmulo vazio.
A celebração de hoje pertence à celebração do Mistério Pascal. Mesmo na Sexta-feira Santa nós não celebramos um Cristo morto. No culto cristão nunca se celebra um Cristo morto. Sempre celebramos um Cristo ressuscitado. Hoje fazemos memória (=tornamos presente) a sua passagem pela morte (=sua Páscoa); mas estamos bem cientes de que foi apenas uma passagem, em direção à verdadeira vida. Estando vivo, ele passou pela morte, mas ressuscitou e sempre está vivo. É este Cristo que vive em nosso mundo, em nossa Igreja e em cada um de nós que hoje celebramos.
A memória da sua paixão permite-nos compreender um pouco da imensidão de seu amor por nós, já que sofreu tanto unicamente para também a nós conceder a vida eterna.
Esta Paixão (“Passio” = padecimento, sofrimento) de amor, ele a viveu por todos os seus, como nos recordava o texto do Evangelho de ontem, também tirado do Evangelho de São João. Todos os seus são aqueles que o receberam, mas também aqueles que não o receberam, ou seja, todos os seus irmãos e irmãs em humanidade, que agora, pelo Mistério Pascal e pela graça de nosso Batismo somos igualmente seus irmãos e irmãs em divindade: Como dizia Santo Irineu de Lião: “Deus se fez homem, para que o homem pudesse tornar-se Deus”, corrigindo assim o pecado humano sugerido pela serpente.
Eis o motivo de nossa adoração ao divino lenho da Cruz, sinal da vitória de Cristo, sinal da vitória da vida sobre a morte, sinal da nossa vitória!
Dom Martinho do Carmo, osb