Caríssimos.
Hoje celebramos Maria, Mãe de Deus: Nossa Senhora da Paz que dá à luz à própria Paz. Ela dá à luz a Deus, e traz ao mundo a absoluta Paz de Deus, este Filho que tomará sobre si, na cruz, toda a violência e ódio do mundo.
Este Capítulo, no qual estamos reunidos, dá à luz aspirantes à vida monástica, nossos Noviços. Nós Professos também nascemos aqui. Cada nascimento que aqui acontece é uma esperança de paz para a comunidade, mas também é, para cada um de nós, vibrando em nossas entranhas, um chamado à própria paz, ao amor incondicional, um convite a depor nossas armas. Não é por acaso que, logo após o Natal, o evangelho nos impeliu a confrontar a incomparável monstruosidade do massacre dos Santos Inocentes, pois ele é um sinal inverso do que Jesus veio ensinar-nos: aquela paz que lhe custou o preço de sua própria vida. O Natal revela-nos o nome próprio desta paz nascida de Maria, mãe de Deus: Jesus, o Verbo, a Palavra que, como nos disse Dom Paulo em sua homilia de Natal, ainda não fala, é silenciosa.
Caríssimos irmãos e irmãs, somente a paz pode nos colocar no caminho da palavra: e a palavra nasce precisamente quando a criança para de chorar (diríamos, para nós, que o diálogo nasce quando o monge para de murmurar); para falar, e para e ouvir o outro que fala, é preciso parar de chorar, de gritar, abaixar o nível da própria voz, silenciar o barulho interior. O Evangelho de hoje fala-nos um pouco sobre isso: os pastores exultantes faziam, provavelmente, grande alarde, mas Maria, em silêncio, “meditava sobre esses fatos em seu coração” (Lc 2,19). Eis, portanto os votos que vos faço para 2021: votos desta Paz – o próprio Cristo! – que tem sua força a partir do silêncio, e votos deste silêncio – não humano, mas Dom de Deus –, que é o guardião da verdadeira Palavra, e do verdadeiro diálogo.
Que Maria possa, caríssimos irmãos e irmãs, neste ano de 2021, ensinar-nos este silêncio do coração – sinônimo de Paz –, de onde brota a verdadeira sabedoria em nossos relacionamentos fraternos.
Amém.