Queridos Irmãos e Irmãs.
Antes de tudo, preciso agradecer profundamente a presença de vocês, nesta tarde, participando a esta celebração. Muito, muito obrigado.
Obrigado ao padre Leomar pela sua homilia. Ele vem de São Paulo. Amigo de mais de 27 anos.
Não vou fazer uma segunda homilia. Gostaria de lembrar as coisas importantes que aconteceram na minha vida e agradecer a Deus por sua fidelidade.
Hoje, a igreja está celebrando São Silouane, monge do Monte Atos. Nós temos uma relíquia dele encima do altar. É uma delicadeza de Deus, de festejar este duplo jubilo na festa dele. É um grande monge intercessor pela humanidade. O exemplo para nós, monges da Transfiguração.
Em primeiro de setembro de 1962 entrei na abadia Mont César a Louvain.
23 de setembro (ontem exatamente), 1972, recebi a ordenação presbiteral na abadia das monjas de Liege.
Mais Deus tocou meu coração bem antes.
A dois anos da minha vida, meu pai saiu da nossa casa, para escolher uma outra mulher. Não tenho lembranças do meu pai em casa.
Com minha Mãe, nós moramos a Nismes, pequeno povoado no sul da Bélgica, povoado muito lindo, turístico de 2 mil habitantes.
A cinco anos o pároco da nossa igreja me convidou para participar da procissão do Santíssimo Sacramento, na festa do Corpo de Cristo. Ele me vestiu com uma batina vermelha, sobrepeliz branco, ele me deu uma sineta para tocar na procissão, informando que ‘‘Jesus está passando’’.
Quando voltei em casa eu disse a minha mãe ‘‘quando me tornar grande, também vou mostra Jesus.’’
Este desejo nunca se apagou na minha vida. Esta frase, é minha mãe que sempre me lembrava. A procissão e a batina vermelha estão presentes na minha memória.
Um ano depois, por causa dos conflitos entre minha mãe e meu pai, mamãe tomou a decisão de mudar de cidade. Nós chegamos a Liége, 300 quilômetros do povoado que nós moramos. Cidade de duzentos mil habitantes. Foi um choque para mim.
Fui rapidamente acólito na paroquia de Nossa Senhora dos Anjos.
Comecei a brincar fazer a celebração da missa. A minha hóstia era uma pastilha branca de menta. O vinho era Coca-Cola.
A oito anos, as irmãs da caridade, amigas da minha mãe, me fizeram duas casulas. Uma dourada, uma vermelha. Foi mito chique. Guardei uma fotografia.
Julho de 1956, foi uma data importante.
Encontrei a comunidade das monjas beneditinas de Liége. As portas da igreja estavam abertas embora habitualmente estivessem fechadas por causa da clausura monástica delas.
Oitenta monjas cantando em latim o oficio divino. Pode imaginar o choque para mim!
Terminando vésperas uma delas chegou na igreja para nos pedir se poderíamos servir a missa (ficar acólito). Eu fui com meu amigo de infância Jacques.
Ficamos com elas seis anos até a minha entrada no mosteiro.
Preciso agradecer a Deus, por este encontro.
Impossível de dizer todas as coisas que recebi delas. Educação, polidez, formação espiritual, humana e intelectual.
Preciso agradecer minha mãe que sempre me deixou ir com as monjas fora da escola. Nunca ela ficou com ciúmes, olhando seu filho pegar sua bicicleta e ficar horas e horas nas monjas. É delas que nasceu minha vocação monástica.
Nas monjas encontrei Dom Abade Bernard Capele, abade emérito da abadia de Mont César.
Foi sempre três dias por mês, que ele visitou as monjas para confissões e direção espiritual. Sempre estive presente nas missas dele, acolitando.
Rapidamente, ele me convidou depois da missa a tomar o café da manhã com ele e responder as minhas perguntas de adolescente.
É ele que me iniciou a entrar na misericórdia, na paciência e no perdão de Deus. Ele sempre foi o grande cantor do Evangelho de São Lucas.
As monjas de Liége me incentivaram a entrar no conservatório de música de Liége. Por essa razão que eu fiz antes de entrar na vida monástica quatro anos de conservatório. Quem me incentivou particularmente foi a irmã Emmanuel, uma grande amiga.
Esta época, chegou nas monjas Dom Felix, assumindo o papel de Dom Abade Bernard. Rapidamente ele me conquistou. Foi um grande amigo. Confessor-Pai Espiritual-Pai simplesmente. Depois meu mestre de noviço.
Dom Felix, com sua abertura e sua formação intelectual continuou na linha de Dom Abade Bernard. Foi uma graça para mim. Uma benção de Deus para minha vida e certamente o motor para nunca esquecer ‘‘Gostaria de mostra Jesus.’’
Preciso de me lembrar dos meus 18 anos, quando eu pedi a minha mãe como presente de aniversário a permissão de entrar na Abadia de Mont César no próximo ano.
Minha mãe chorou quatro dias antes de me dar a sua permissão.
Obrigado mãe-Obrigado
Primeiro de setembro de 1962 um sábado, cheguei na Abadia de Mont César fiz meu noviciado com Dom Felix. Fiz meus votos. Fiz meu quartel no hospital militar (essa época era obrigatório), fiz a filosofia e a teologia.
Julho 1968, dois meses depois da minha profissão solene, Dom Felix viajou para o Brasil, transferindo sua estabilidade para a Abadia de Olinda. Foi um momento duro para mim. É uma chave para compreender a minha chegada no Brasil. Ficar próximo dele. Foi o meu plano, mas Deus ficou com outros planos para mim.
23 de setembro (ontem exatamente) um sábado, recebi na Abadia das monjas onde passei toda a minha adolescência a graça da ordenação presbiteral.
Participei 14 anos na fundação de Maredsous, no Mosteiro de São João.
O Mosteiro da Transfiguração tem um pouquinho da cara dessa fundação.
Julho 1994 cheguei no Brasil. Na Terra da Santa Cruz, convidado por Dom Felix.
Mais uma vez, não foi o plano de Deus.
14 de agosto 1996 nas primeiras vésperas da assunção de Nossa Senhora, Dom Fernando Figueiredo bispo de Santo Amaro abençoou a fundação da Transfiguração.
Preciso de nomear Dona Angelis Vila Marsans de Esteve, que sempre foi e é uma grande amiga e benfeitora do nosso mosteiro. Ela disponibilizou sua casa Chácara Flora, para a nossa fundação.
Três anos depois foi o milagre de Santa Rosa. Receber o mosteiro com a chave na porta, com a igreja construída, nunca acontece. Na história da Transfiguração aconteceu.
Dom Estanislau Kreutz nos convidou a ocupar o mosteiro inocupado de Monsenhor Becker. Foi uma aventura, mas Deus ficou sempre conosco.
Nós acabamos no ano passado de festejar 25 anos de fundação.
Hoje, estou celebrando 60 anos de vida monástica e 50 anos de ordenação presbiteral.
Verdadeiramente é um milagre.
Milagre sabendo minhas fraquezas, minhas infidelidades, minha miséria.
Preciso proclamar com convicção que Deus é sempre fiel.
A chave deste milagre é sem dúvida a consequência de uma oração que o celebrante deve rezar em silêncio antes de comungar, quando o coro está cantando o Agnus Dei e depois da fracção da hóstia.
A primeira é assim:
Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, que, cumprindo a vontade do Pai e agindo com o Espirito Santo, pela vossa morte destes vida ao mundo, livrai-me dos meus pecados e de todo mal; pelo vosso Corpo e pelo vosso Sangue, dai-me cumprir sempre a vossa vontade e jamais separar-me de vós.
A segunda é assim (o celebrante pode escolher):
Senhor Jesus Cristo, vosso Corpo e vosso Sangue que vou receber, não se tornem coisa de juízo e condenação; mas, por vossa bondade, sejam sustento e remédio para a minha vida.
Estou profundamente convencido que os pedidos dessas orações transformaram minhas infidelidades em fidelidade.
É o próprio Deus que fortaleceu minha vida. Este milagre é obra dele.
Queridas amigas e queridos amigos muito obrigado de celebrar comigo essas maravilhas de Deus.
Gostaria de utilizar as próprias palavras de Nossa Senhora ‘‘O Senhor fez por mim maravilhas, Santo é o seu nome.’’
‘‘Senhor eu te agradeço porque tu me escolheste para servir na tua presença.’’
Obrigado-Beijos para vocês.
Dom Cristiano Collart, osb