HOMILIA DO V DOMINGO DA QUARESMA – A (Jo 11, 1-45)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Nosso itinerário de Quaresma, neste quinto domingo, alcança o seu ponto mais alto com esta página admirável do Evangelho de João, que nos apresenta o grande sinal da ressurreição de Lázaro como profecia da ressurreição de Jesus e da nossa própria ressurreição iniciada em nosso Batismo, onde fomos arrancados da morte. Por isso, hoje, nosso irmão Henrique chega ao ponto culminante de sua caminhada catecumenal, celebrando o último escrutínio que antecede o seu Batismo.  

O homem, pelo pecado, tomou um caminho de ruptura da comunhão com Deus, que é a fonte de vida, lançando-se, deste modo, em um precipício de morte. Ao longo de toda a história da salvação, Deus procura alcançar o homem e restabelecer com ele a aliança perdida, convidando-o a retornar para a vida; promete, como ouvimos no profeta Ezequiel, abri nossos túmulos e devolver-nos à vida, colocando em nós o seu Espírito, e sendo novamente o nosso Senhor.

No Evangelho de hoje realiza-se esta promessa. Jesus ressuscita Lázaro, tirando-o de seu túmulo e devolvendo-o à vida. Contudo, a ressurreição de Lázaro é apenas anúncio da Ressurreição do próprio Jesus, que será permanente e capaz de dar a todo aquele que crê a vida eterna e divina.

Sem dúvida nos surpreende o fato de Jesus devolver à vida um morto; isso provocou a fé de muitos, e também a fúria de outros. Mas, o grande plano de Deus é arrancar-nos de uma morte muito pior e que afeta todo ser humano: a morte do pecado. Pelo Batismo, Jesus, pelo poder de sua paixão, morte e ressurreição, abriu nossos túmulos e nos chamou: “Vem para fora”. Ele nos desamarrou dos laços da morte, proclamando: “Desatai-o e deixai-o caminhar”.

Contudo, o pecado insiste a nos prender novamente e nós nos deixamos amarrar, voltando a caminhar pelo mundo como mortos-vivos. Novamente nos enterramos, somos amarrados, como Lázaro morto. Mesmo assim, o Senhor não desiste de nos alcançar e nos dar a liberdade e a vida, mas é preciso permitir que Ele nos desperte do sono de morte, por mais doloroso que isso seja. Diante de nossa situação de morte, Jesus também se comove, chora, pois como Lázaro, somos seus amados amigos. Ele quer abrir nossos túmulos, quantas vezes for preciso – e nos oferece isso através do Sacramento da Reconciliação – mas, talvez, como Marta, a irmã de Lázaro, não consideremos que isso seja uma boa ideia: “Marta, a irmã do morto, interveio: Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”. Como ela, talvez pensemos que em certas áreas de nossa vida não vale a pena mexer; pode feder… Mas é justamente lá que Jesus precisa chegar para nos devolver a vida. Só assim a glória de Deus se manifestará em nossa vida, em nossa história, com toda sua força, toda sua beleza e seu perfume.

Hoje o Senhor nos convida a identificarmos onde estão os nossos túmulos, cheios de morte e mal cheiro. Ele também nos pergunta: “Onde o colocastes?” Onde está o teu túmulo, onde está o teu pecado? É aí que preciso chegar para remover a pedra e gritar: “Vem para fora!”

O Senhor nos liberta do poder das trevas, da morte e do pecado. Mas cabe a cada um de nós dar-lhe livre acesso aos nossos lugares de morte, para que a eficácia de seu poder de Vida aí possa penetrar e nos ressuscitar.