3º Domingo do Advento ANO C– Lucas 3,10-18

D. Afonso VIEIRA, OSB

Irmãos e irmãs, hoje continuando nossa “caminhada do advento”, na preparação para a vinda do Senhor, denominamos esse dia de “domingo Gaudete”, como um convite à alegria, pois a vinda do Senhor se aproxima e a nossa libertação está cada vez mais perto. Na primeira leitura, nós vemos o profeta Sofonias que convida Jerusalém a alegrar-se porque Deus revogou a sentença de condenação que pendia sobre o seu Povo. O amor de Deus é bem mais forte do que a sua vontade de castigar, e por isso Ele irá estabelecer a sua morada no meio do seu Povo, curando-o com o seu amor e abrindo-lhe as portas de um futuro de esperança e de paz. Deus, vencido pelo amor, veio ter com o seu Povo e decidiu residir outra vez no meio dele. Como qualquer apaixonado, Deus não quer estar longe do ser amado. Deus veio para ficar e Judá, protegido pelo amor de Deus está seguro. Mas, apesar dessa primeira leitura jubilosa, no Evangelho João Batista, o profeta do advento, continua a nos propor caminhos de conversão, exortando a uma mudança radical, que nos torne mais humanos, mais solidários, mais bondosos, mais misericordiosos. Partilhar os nossos bens com os necessitados, não defraudar o próximo, não exercer violência, são as marcas da vida nova, de uma vida segundo o Espírito. É nesse sentido que caminham os que esperam o Senhor.
A mudança de vida que João Batista propunha a todos os que o procuravam, devia traduzir-se numa mudança de atitudes, porque não bastam declarações de boas intenções; a conversão tem de manifestar-se em gestos. “Produzi frutos de sincera conversão” (Lc 3,8). No entanto, as pessoas queriam orientações mais concretas. Lucas conta que elas perguntavam: “que devemos fazer?” (vers.10,12,14). João não pede gestos piedosos ou práticas religiosas especiais; mas propõe coisas muito concretas, que apontam no sentido de uma vida mais humana, mais justa e mais fraterna. João fala de “repartir”. O verbo “repartir” nos desaloja de uma vida construída à volta do “ter” e nos obriga a olhar para os irmãos que estão ao nosso lado. Não é dar o supérfluo ou as sobras, mas sim partilhar com o próximo o pouco ou o muito que se tem. É uma tomada de consciência de que os bens – inclusive aqueles que respondem às necessidades primárias do homem, como a roupa e os alimentos – são dons de Deus postos à nossa disposição, mas que se destinam a todos. “Repartir” significa a passagem da posse para a o dom.
Aos publicanos, João propõe que não se aproveitem da sua situação para explorar os seus irmãos. A cupidez que leva à exploração e ao roubo não é compatível com uma vida segundo Deus. O enriquecimento por meios ilícitos e imorais, a exploração dos pobres, prejudicam a comunidade, e além de crimes essas ações destroem o tecido social justo.
Aos soldados, João pede que não usem de violência e que não abusem da sua força para cometer injustiças. Em virtude do seu “ofício” e do poder que as armas lhes conferiam, os soldados profissionais tendiam a usar a força de forma indiscriminada. A violência, o abuso do poder, a prepotência, desumanizam o mundo, subvertem gravemente a beleza do mundo e dos homens.
Os “frutos de conversão” que João Batista pede se referem a comportamentos e atitudes para com o próximo. A melhor maneira de prepararmos o caminho para o Senhor que vem é, simplesmente, cuidarmos das nossas atitudes para com os irmãos; a melhor forma de prepararmos o mundo para a chegada de Deus é construirmos uma sociedade mais justa, mais solidária, mais fraterna. Assim como vimos na segunda leitura, Paulo falando que “o Senhor está próximo”, pede consciência dessa proximidade, pois, os cristãos caminham pela vida serenos e confiantes, distribuindo gestos de bondade e de generosidade, numa escuta constante de Deus, dos seus desafios e propostas. É assim que se espera o Senhor, vivendo na certeza de que o Senhor vem (“o Senhor está próximo” – vers. 5). O cristão vive na esperança e da esperança, porque quando se vive tendo no horizonte a certeza da próxima vinda do Senhor, caminha-se confiante, alegre e com o coração cheio de paz.
João Batista acreditava que, quando ele próprio saísse de cena, iria chegar uma outra figura, enviada por Deus, para concretizar a intervenção final de Deus na história. Falava que viria “o mais forte do que eu”; e dizia de si próprio que não era digno de lhe “desatar as correias das sandálias” (vers. 16). “Desatar a correia das sandálias” era uma tarefa própria de escravos. A expressão traduz a consideração de João por aquele que há de vir e que é “o mais forte”, aquele que Deus iria encarregar de uma tarefa superlativa na história da salvação.
As leituras desse 3º Domingo do Advento estão dispostas de maneira que aprendamos a acolher o Senhor que vem, numa mudança de vida que se traduza numa nova forma de encarar o mundo, de olhar para as pessoas com quem nos cruzamos, de acolher cada irmão e cada irmã que Deus coloca no nosso caminho.
Conhecemos bem as violências, as maldades, as misérias, que por todo o lado, deixam um rasto de desumanidade, de sofrimento e de morte. Nós somos convidados a sermos solidários com os nossos irmãos. Mostrando o Rosto do Senhor que vem para nos salvar. Esse Domingo da Alegria nos chama a sermos alegres, na esperança, pois o Senhor vem e vem para nos salvar!

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