16º Domingo Comum Ano B – (Mc. 6,34)
Dom Afonso VIEIRA, OSB
“Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor.” (Mc. 6,34)
A liturgia deste domingo revela o amor e a misericórdia de Deus para com a humanidade ao apresentar a atitude compassiva de Jesus Cristo diante da multidão que o seguia. Essa compaixão revela-se em plenitude na oferta que Ele faz de si mesmo através da doação da vida do seu Filho, nosso Salvador.
Na Primeira Leitura (Jr. 23,1-6), através do profeta Jeremias, Deus condena os pastores desonestos que enxergam o rebanho como meio para satisfazer os seus planos e não o protege e comportam-se de maneira perversa, irresponsável e ignorando o sofrimento do povo. Mas Deus reúne o rebanho que estava disperso e dali fará surgir novos pastores, por fim, o Messias que agirá conforme o coração de Deus. Esse Jesus que vemos no Evangelho (Mc. 6,30-34) acolhendo os discípulos quando retornam da missão para a qual o Senhor os enviou no Evangelho do domingo passado. Cansados mas animados, e Jesus os ouve e os convida a um lugar deserto, distante da multidão. A atitude de retirar-se não era uma decisão apenas para descansar, mas também para avaliar a missão e planejar as próximas ações missionárias. Lembremos que o deserto, na bíblia, é o lugar da aliança de Deus com seu povo. Por isto, mesmo se isolando no deserto, os discípulos contemplam a multidão acorrendo em direção para lá encontrar Deus na pessoa do seu Filho Jesus Cristo. O Mestre Jesus se compadece pelos sofrimentos e necessidades do povo, assim como Deus teve compaixão do povo no deserto (Ex. 34,5-6; Dt. 32,1-12; Is. 40,11).
Os discípulos entendem paulatinamente que são continuadores dessa missão. Eles testemunham o amor, a bondade e a solicitude de Deus por nós, que muitas vezes, caminhamos no mundo perdidos “como ovelhas sem pastor”. Os discípulos de Jesus entendem, então, que devem permanecer tendo Jesus como modelo e centro de sua vida e missão. Mas para que isso aconteça, a cada ação missionária realizada, a cada anúncio da Boa Nova feito, o discípulo deve retornar sempre a Jesus, para ouvi-lo, dialogar com seu coração de Bom Pastor.
Na Segunda Leitura (Ef. 2,13-18), São Paulo fala do zelo de Deus pelo povo, iniciado com o profeta Jeremias. Paulo nos lembra que mesmo que não tenhamos, nos primórdios, feito parte do rebanho eleito (Israel), em Jesus Cristo, nos tornamos parte do Reino pela redenção na cruz. A nossa missão não pode ser realizada separada daquilo que Jesus ensinou, viveu e praticou.
Irmãos e irmãs, o exemplo de Cristo é motivo de questionamento e chamado à conversão. É forte apelo a que sejamos como ele, tendo seus sentimentos, suas atitudes, participando de sua entrega total. E ao mesmo tempo, Ele que se deu como pastor, faz o convite a que nos entreguemos totalmente a ele como ovelhas. Como a ovelha do Salmo da Missa de hoje, que confia totalmente no seu pastor, ainda mesmo que passe pelo vale tenebroso, porque sabe que o pastor é fiel, que o pastor haverá de defendê-la, assim também nós, ovelhas do seu pasto, nos confiemos ao Senhor, O sigamos e n’Eele coloquemos a nossa existência.
Como a multidão muitas vezes seguimos os passos de Jesus, mas não pelas razões certas. O Cristo não deve ser objeto de curiosidade, mas de predileção e de prioridade. O Cristo deve ser buscado pelo que é em si mesmo: Deus, Salvação, Bem. O nosso coração deve sofrer e a nossa consciência deve nos inquietar quando encontrarmos alguém humilhado, explorado, marginalizado, tendo seus direitos e sua dignidade negados. Seguindo o exemplo do próprio Jesus não devemos ficar acomodados no emocional, na comoção paralisadora. Devemos deixar que a nossa compaixão também nos leve a agir por nossos irmãos, assim como Jesus responde a multidão necessitada ensinando-lhes “muitas coisas”. Os discípulos devem, sempre, estar, ao lado de Jesus, vendo como Ele dá testemunha do amor, da ternura, da bondade de Deus àqueles homens e mulheres que procuram a salvação. Peçamos ao Senhor que sempre nos conduza às campinas verdejantes, nos faça descansar, restaurando nossas forças e nos guiando no caminho mais seguro. Assim somos preparados para a mesa eucarística, e ungidos com o suave óleo do seu Espírito, possamos transbordar a taça da nossa exultação e um dia habitar na casa do Senhor, tempos infinitos. Amem