HOMILIA XI DOMINGO TC-B (Mc 4,26-34)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
O capítulo 4 do Evangelho de São Marcos nos oferece uma série de parábolas, onde Jesus ensina sobre o Reino de Deus. A primeira delas é a conhecida parábola do semeador, que sai para semear e lança as sementes em todas as direções, indistintamente, sobre todos os tipos de terrenos. O próprio Jesus explica esta parábola: a semente é a Palavra de Deus e o terreno o coração do homem. A semente é sempre boa e é capaz de germinar em qualquer terreno, mas só pode produzir frutos se o terreno, ou seja, o coração humano, for aberto e favorável.
O trecho do Evangelho, que a liturgia de hoje nos propõe, cita duas outras parábolas, também dentro do cenário agrícola, tão próximo da realidade de nossa região. Também falam do mistério das sementes, a que são comparados a Palavra e o Reino de Deus.
Na segunda parábola, esta semente é descrita com mais detalhes; sabemos que se trata de um grão de mostarda, ou seja, uma semente quase insignificante de tão pequena. Mas isso não importa, pois quando é semeada, se transforma na maior das hortaliças, capaz até de abrigar os pássaros em seus ramos.
Jesus conta essas parábolas aos discípulos, que estão no início de sua caminhada junto dele. Eles estão entusiasmados e acreditam que farão parte de uma obra grandiosa ao lado de Jesus, que conquistarão o mundo, que logo verão o reino de Israel triunfar. Mas Jesus quer lhes propor justamente o contrário disso. Ele anuncia que o Reino de Deus tem início entre nós como algo pequenino, humilde, quase insignificante, em muitos casos, como um grão de mostarda. Mas isso não significa que ele não possa crescer e se tornar grande.
Além disso, como a primeira parábola revela, o Reino de Deus, comparado a um campo semeado, precisa de tempo para germinar, para crescer e frutificar, como qualquer semente. Isso mostra que a semente é autônoma, faz o seu próprio trabalho, sem depender do esforço humano. O agricultor não tem poder de acelerar o desenvolvimento da plantação, segundo seu desejo, mas tem de aceitar o ritmo da semente, que é infalível, até chegar o tempo da colheita. Portanto, não vale a pena se preocupar ou se iludir quanto ao processo de crescimento do Reino, que depende da ação de Deus.
As duas parábolas mostram aos discípulos que eles não precisam tentar forçar a germinação ou a maturação das sementes lançadas, segundo suas próprias forças. E que o mínimo gesto que eles façam para anunciar o Reino, mesmo pequeno como um grão de mostarda, pode frutificar, pois a força não está neles, mas na própria semente da Palavra, na graça que a habita.
O que o Senhor lhes encoraja é semear, proclamar a Palavra “oportuna ou importunamente” (cf. 2Tm 4,2), como diz São Paulo. Claro, para semear, como sabemos, é preciso preparar a terra, retirar dela as pedras, o mato, regá-la, adubá-la. Mas depois disso, é preciso confiar na força da semente da Palavra, saber esperar, acreditando que Deus fará a sua parte, quer durmamos, quer vigiemos.
Muitos de nós desanimamos diante da lentidão do crescimento da semente do Reino de Deus em si mesmo ou na família ou entre os amigos… Muitas vezes chegamos a duvidar que seja possível acontecer alguma mudança diante de nossas orações ou tentativas de evangelização. Mas a Palavra de Deus hoje vem nos animar na esperança e na confiança; não em nós mesmos, em nossos esforços, mas na força que habita a própria Palavra de Deus, na semente do Reino plantada em nosso meio.
Não podemos desanimar se o fruto demora a chegar; com paciência, é preciso se encher de confiança, como diz São Paulo aos Coríntios (cf. 2Cor 5,6), mesmo se ainda não vemos os frutos ou se a colheita parece demorar a chegar. É preciso confiar, como rezamos na Oração da liturgia de hoje: “Ó Deus, força daqueles que em vós esperam, sede favorável ao nosso apelo e, como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça”. Ele é a força daqueles que Nele esperam… Não busquemos ter essa força em nós mesmos, em nossos recursos, sempre tão precários, mas sempre Nele, somente Nele, “para que possamos querer e agir conforme a vossa vontade”. Amém.